Acervo, Rio de Janeiro, v. 36, n. 2, maio/ago. 2023

Marc Ferrez: a fotografia como experiência | Artigo Livre

Os romances da realeza

A presença de obras ficcionais na biblioteca da família imperial brasileira

Royal novels: the presence of fictional works in the library of the Brazilian imperial family / Romances reales: la presencia de obras de ficción en la biblioteca de la familia imperial brasileña

Larissa de Assumpção

Doutora em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Brasil.

larissadeassumpcao@gmail.com

Marcia Azevedo de Abreu

Doutora em Teoria e História Literária pela Unicamp. Professora titular do Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, Brasil.

marcia.a.abreu@gmail.com

Resumo

Este artigo analisa a presença de obras de prosa de ficção na biblioteca da família imperial do Brasil. Constata-se que a maior parte dos livros foi impressa na Europa e que os autores e títulos do acervo também estavam disponíveis para os leitores cariocas, o que avança o conhecimento sobre a circulação de romances no século XIX e sobre seu público leitor.

Palavras-chave: biblioteca; família imperial brasileira; romance; circulação.

Abstract

This article analyzes the presence of fictional narratives in the library of the Brazilian imperial family. It is noted that most of the books were printed in Europe and that books and authors in the library were also available to common readers in Rio de Janeiro, which promotes the knowledge about the circulation of novels in the 19th century and their readership.

Keywords: library; Brazilian imperial family; novel;circulation.

Resumen

Este artículo analiza la presencia de obras de ficción en prosa en la biblioteca de la familia imperial de Brasil. Se constata que la mayoría de los libros fueron impresos en Europa y que los autores y títulos de la colección también estaban disponibles para los lectores de Río de Janeiro, lo que avanza el conocimiento sobre la circulación de novelas en el siglo XIX y sobre su público lector.

Palabras clave: biblioteca; familia imperial brasileña; novela; circulación.

A biblioteca imperial brasileira começou a ser formada em 1808, quando a coleção de livros da família real portuguesa foi instalada no palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Ao longo dos anos, esse foi o local de moradia da corte de d. João VI e, posteriormente, das famílias de Pedro I e de Pedro II, que também contribuíram para a ampliação do acervo. Em 1891, após a Proclamação da República, Pedro II – que na ocasião estava em Versalhes – escreveu uma carta ao procurador José da Silva Costa com o objetivo de definir o destino de alguns pertences e objetos pessoais deixados no Brasil, entre eles uma imensa coleção de livros.1 No documento, o antigo imperador pediu que as obras fossem destinadas a diferentes instituições: ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – “a fim de fazerem parte da respectiva biblioteca, devendo esses livros ser colocados em lugar especial com a denominação de d. Thereza Christina Maria” –, à Biblioteca Nacional – que deveria colocá-los “em lugar especial também e com igual denominação” – e ao Museu do Rio de Janeiro – destino de obras e objetos relacionados às ciências naturais e à mineralogia (Actas..., 1891, p. 223). Após a realização dessa divisão, 7.048 livros foram enviados para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e 352 para a Biblioteca do Museu Nacional (Dantas, 2007, p. 157). A maior parte do acervo, composta por 24.270 livros, foi para a Fundação Biblioteca Nacional, onde permanece até os dias de hoje e compõe a coleção Thereza Christina.

Apesar de não restarem muitas informações sobre a formação dessa coleção, é possível supor que sua composição esteve associada à imagem que os monarcas desejavam transmitir e que representava seu poder social e cultural (Petrucci, 1999; Chartier; Martin, 1989; Schwarcz, 2002), sem que necessariamente estivesse relacionada aos gostos e interesses de leitura dos proprietários ‒ obras podem ter sido adquiridas por serem raras ou especiais; ofertadas por delegações estrangeiras como parte da representação diplomática; ou ainda doadas pelos próprios escritores ou editores, interessados em atrair as benesses de membros da família imperial e do próprio imperador. Mesmo se os livros tivessem sido obtidos em sua totalidade pela família, não seria possível inferir que, apenas por se tratar de uma biblioteca particular, seu catálogo traria informações sobre preferências literárias de seus proprietários (Abreu, 2013).

De toda forma, é particularmente interessante verificar que a biblioteca conservava obras em prosa de ficção,2 produção desprestigiada e raramente associada a leitores da elite letrada.3 Embora a alfabetização no Brasil no século XIX fosse restrita, pesquisas produzidas nos últimos anos mostraram que as obras de prosa de ficção estavam disseminadas de norte a sul do Brasil.4 Pessoas de diferentes extração social e grau de instrução mantinham contato com elas por meio dos folhetins publicados em jornais, de volumes conservados em gabinetes de leitura e em bibliotecas públicas ou ainda por meio dos diversos livreiros e leiloeiros que atuavam na época.5 Por atingir um leitorado vasto, por tratar de situações consideradas imorais e por ser vazado em forma considerada nova (Abreu et al., s.d.), o romance foi visto com maus olhos pelos letrados.

Analisar a presença de romances nessa biblioteca pode ajudar a rever ideias correntes sobre a destinação popular das narrativas e a conhecer títulos e autores que se fizeram presentes entre membros da monarquia. A análise das línguas e locais de publicação dos livros pode, ainda, trazer indícios sobre o funcionamento do mercado livreiro e a circulação de romances no Brasil do século XIX.

A presença de romances na biblioteca da família imperial

O estudo dos 24.270 livros que compõem a coleção d. Thereza Christina Maria revelou a presença de romances, ainda que de forma tímida: 2,7% pertencem ao gênero, o que equivale a 665 títulos. Embora essa parcela seja pouco expressiva do ponto de vista numérico, ela é capaz de fornecer uma amostra dos romances com os quais a família possivelmente entrou em contato, tenham sido eles adquiridos ou recebidos como presente. Além disso, análises de documentos e cartas escritas pela família imperial mostram que essa pequena parcela de obras de ficção fazia parte de seu cotidiano, pois elas eram constantemente emprestadas, enviadas como presente ou lidas em voz alta em reuniões familiares, além de serem assunto de muitas das missivas trocadas entre seus membros (Assumpção; Abreu, 2021; Assumpção, 2021).

A análise de dados relativos à edição desses livros, à sua autoria e aos títulos mais presentes lança luzes sobre a posse de romances por membros da família imperial e confirma interpretações sobre a circulação de livros desse gênero no século XIX.

A atualidade do acervo de obras de ficção

Dos 665 livros de prosa de ficção presentes na biblioteca, 623 apresentam informações sobre a data de sua publicação, permitindo, assim, aquilatar sua atualidade e conjecturar se eles teriam sido incorporados à biblioteca no período em que a família imperial viveu no Rio de Janeiro ou se teriam sido trazidos no momento da sua transferência para o Brasil.

O acervo contém títulos publicados pela primeira vez ainda no século XVI, como Giulietta e Romeo, uma narrativa italiana escrita em 1530 por Luigi da Porto e que viria a ser uma das inspirações de William Shakespeare para a escrita de Romeu e Julieta (Salernitano et al., 2000). Outras obras também antigas são Galatea, saída à luz originalmente em 1585, e Dom Quixote de la Mancha, composto em 1605, ambas de Miguel de Cervantes. Apesar da antiguidade das composições, as edições presentes no acervo são bem mais recentes: Giulietta e Romeo, publicada em 1875, em Milão; Galatea, em 1860, em língua espanhola, em Madrid, e Dom Quixote de la Mancha, em três edições em espanhol (1859, 1860, 1863) e uma em alemão (não datada). A biblioteca continha também edições antigas, como Les aventures de Télémaque, de Fénelon, cuja primeira publicação data de 1699, mas está presente em uma edição francesa de 1773 – o livro mais antigo dentre as narrativas ficcionais conservadas no acervo. A presença de obras antigas no catálogo, adquiridas a partir de novas edições ou de traduções, não é uma peculiaridade da biblioteca da família imperial, já que análises de outros acervos e catálogos de livreiros revelam que o interesse dos leitores permanecia constante por longos períodos (Modenez, 2011).

Por outro lado, havia também obras de publicação contemporânea, sendo a mais recente uma tradução francesa de romance de Tolstói: Le prince Nekhlioudov, saída à luz em Paris em 1889. Outras das edições coevas do mesmo autor também estão presentes: À la recherche du bonheur, de 1886, e Anna Karenina, de 1885. Segundo Bruno Gomide (2011), a tradução e difusão de romances russos na Europa ocorreram após a publicação dos ensaios-manifestos escritos por Eugène-Melchior de Vogüé, que os defendiam como uma proposta de “corretivo” aos desvios e excessos de cientificismo da literatura francesa da época, representada especialmente nas obras de Flaubert e Zola. Publicados a partir de 1883 na prestigiosa Revue des Deux Mondes – um dos periódicos de leitura comum na família imperial –,6 os textos podem ter chamado a atenção de membros da família para as obras de Tolstói, levando à aquisição dos livros
recém-saídos em francês.

No geral, os impressos conservados na biblioteca imperial eram relativamente atuais, já que 97% das edições são do século XIX. Não há uma concentração acentuada de livros produzidos em alguma década específica, mas é possível perceber um maior volume na década de 1820 (15,8%) e, posteriormente, nas décadas de 1870 e 1880 (ambas com 12,8%),7 indicando que, possivelmente, as obras tenham sido incorporadas ao acervo quando a família já vivia no Brasil. O arco temporal é bem mais amplo se considerarmos a data de primeira publicação dos textos: 0,4% do total foi composto no século XVI; 2,4%, no XVII; e 13,5%, no XVIII.8 A maioria das obras foi escrita no século XIX (76,4%), com destaque para as décadas de 1820 (8,6%) e 1870 (10,5%).9

Percebe-se, desse modo, que o acervo é muito mais atual da perspectiva das edições do que do ponto de vista da composição das obras, o que indica, por um lado, certa estabilidade no interesse dos leitores, que continuam a ler alguns títulos por séculos e, por outro, a vivacidade do mercado editorial, que produzia constantemente novas edições, tornando acessíveis narrativas antigas e mantendo-as em circulação.

Esses dados alteram a percepção de que as obras perdem relevância após o momento de sua primeira publicação, sendo superadas por novas propostas estéticas. Essa percepção é fomentada pela história literária convencional, que centra sua atenção na produção das obras (e não em sua leitura e presença social) e as analisa em ordem cronológica de primeira edição, estabelecendo períodos literários em função dessas datas e associando-os a mudanças de propostas estéticas (Abreu, 2012; 2014).

As línguas presentes no acervo de obras de ficção

Embora a maior parte dos romances tenha data de edição posterior à transferência da corte para o Brasil, isso não fez com que o português fosse uma das línguas de destaque no acervo de obras ficcionais. Pelo contrário, há uma predominância da língua francesa, presente em quase 60% das edições, seguida pelo alemão (13%), italiano (10%) e inglês (7%). O português aparece em quinto lugar, quase com a mesma quantidade de títulos que o inglês (respectivamente 47 e 44 livros).10

Apesar de a família imperial do Brasil ter como origem Portugal, em associação com a Espanha (no caso da rainha Carlota Joaquina), o império austríaco (imperatriz Leopoldina) e o reino de Nápoles (imperatriz Teresa Cristina), no que se refere à posse de romances, sua referência mais importante era a língua francesa, algo previsível no período. Como se sabe, o francês era a língua franca das elites internacionais e a França, o centro da produção editorial, tendo destaque tanto na criação de romances quanto em sua edição (Casanova, 2002). Os membros das elites muitas vezes utilizavam o francês para se comunicar e liam correntemente publicações nessa língua. Por isso, não causa espanto o fato de mais da metade das obras ficcionais presentes na biblioteca ter sido impressa em francês.

Mais surpreendente é a quantidade de títulos em alemão e italiano, cuja presença pode se dever à origem e à formação dos membros da corte. Por exemplo, a imperatriz Leopoldina, esposa de Pedro I, pertencia à dinastia dos Habsburgo e tinha o alemão como língua materna. Durante a infância, recebeu uma educação que incluía também o estudo de francês, italiano e latim (Oberacker, 1973). Na vida cotidiana da imperatriz, que viveu no palácio de São Cristóvão entre 1817 e 1826, o estudo e a leitura tinham destaque, pois frequentemente pedia ao marquês de Marialva que lhe enviasse algumas publicações sobre literatura, botânica e história que haviam acabado de vir à luz na Europa (Kann; Lima, 2006). É provável, portanto, que ela tenha contribuído para que a biblioteca guardasse livros em alemão, sua língua materna.

Pedro II, seu filho, também estudou diferentes idiomas ao longo da infância e, como outros nobres do período, aprendeu, “com afinco, as línguas vivas e mortas, falava inglês, francês, alemão, espanhol, italiano e provençal” (Quintanilha, 2006, p. 11). Sua esposa, a imperatriz Teresa Cristina, que chegou ao Brasil em 1842, nasceu no reino de Nápoles e, por isso, comunicava-se frequentemente em italiano, além de ter conhecimento da língua francesa e da portuguesa (Avella, 2014). As princesas Isabel e Leopoldina, filhas de Teresa Cristina e de Pedro II, também receberam uma educação ampla, que incluía o estudo do francês, do italiano e do alemão (Aguiar, 2012). Pelas cartas trocadas entre familiares de Pedro II, é possível saber que eles liam romances em outras línguas que não o português. Um caso interessante é o da leitura de Ivanhoe, obra originalmente composta em inglês e presente na biblioteca em francês, língua na qual foi lida pela princesa Isabel. Em cartas ao pai, ela comenta o romance e anota os nomes de todas as personagens como aparecem na versão francesa. Ademais, ao mencionar a falta de verossimilhança no fato de Athelstan ter “ressuscitado”, cita o conteúdo de uma das notas de rodapé (na qual é descrito o fato de vários críticos terem se queixado da inverosimilhança da passagem), presente apenas na edição francesa das obras completas, publicada em 1835 (Assumpção, 2021).

Ainda que fossem capazes de ler em vários idiomas, nem sempre recorriam à língua original ao selecionar obras para o acervo, que conta com diversas traduções. Sirva de exemplo o fato de nenhuma das obras do escocês Walter Scott estar presente na biblioteca em inglês e sim em traduções para o alemão (como ocorre, entre outros, com Legende von Montrose und seinen Gefährten, versão de A legend of Montrose) e para o francês (por exemplo, La jolie fille de Perth, tradução de The fair maid of Perth).

A procedência diversa dos membros da família, bem como a educação proporcionada àqueles que haviam nascido no Brasil, pode explicar, em parte, o grande número de obras em línguas estrangeiras no acervo. Mas a variedade de idiomas confirma também a existência de uma circulação internacional de romances, fenômeno comum no século XIX (Abreu, 2016). Narrativas em várias línguas, oriundas de diferentes nações, conviviam não apenas em bibliotecas de elite, mas também em instituições públicas e gabinetes de leitura instalados no Brasil e em países estrangeiros. Esse fato confirma o vigor do comércio livreiro oitocentista e, mais uma vez, indica que o quadro criado pela narrativa historiográfica convencional, ao limitar seu campo de observação à escrita de obras literárias nacionais, deixa de lado elementos importantes para a compreensão da presença dos romances na vida cultural do século XIX.

Os locais de edição das obras em prosa de ficção

A dimensão internacional da circulação de romances fica ainda mais clara quando se observam os locais de edição dos livros presentes na biblioteca da família imperial.

Considerando que a língua predominante no acervo é o francês, não espanta o fato de que Paris seja a cidade onde 54% deles foram editados. Tampouco surpreende que haja vinte livros em francês, oriundos de Bruxelas, “pátria da contrafação na primeira metade do século dezenove”, no dizer de Nelson Schapochnik (2010, p. 598).11 Mais interessante é observar que os demais livros foram impressos em 24 diferentes localidades: Milão (27 títulos), Londres (25), Dresden (24), Leipzig (22), Rio de Janeiro (16), Madri, Zwickau e Florença (13), Viena (9), Lisboa (8), Berlim (6), Nova Iorque, Buenos Aires e Nápoles (5), Turim e Porto (4), Roma, Filadélfia, Bolonha, Bahia e Amsterdã (3), Tours, Montdidier e Toulouse (1).12

Ainda mais notável é o fato de que nem todos os livros publicados em Paris foram impressos em francês. Essa cidade é o local de origem da edição em espanhol de Novelas ejemplares, de Cervantes, publicada em 1838; de três obras em italiano (de autoria de Giovanni Rosini, Cesare Cantú e Tommaso Grossi, editadas entre 1840 e 1846); de sete livros em inglês (de Laurence Sterne, Oliver Goldsmith, William Makepeace Thackeray e Maria Edgeworth, editados entre 1836 e 1873); e de dois romances em português (uma edição de 1819 de Verdadeira história dos sucessos de Armindo e Florisa, de Filinto Elísio, e A morte moral, de Antonio Deodoro de Pascual, publicado em 1864). Há casos ainda mais curiosos como o do romance The pilot: a tale of the sea, do norte-americano Fenimore Cooper, presente na biblioteca imperial em tradução para o português, preparada pelo baiano Caetano Lopes de Moura, e impresso em Paris em quatro volumes.

A maioria dos livros em português foi editada em solo brasileiro, no Rio de Janeiro ou na Bahia, e não em cidades portuguesas, onde havia um parque editorial maior e mais antigo. Na capital do império vieram à luz 16 títulos, entre os quais apenas duas traduções (Les mystères du peuple e Aventures de trois russes et trois anglais dans l’Afrique Australe). O mesmo ocorre com as obras publicadas no Porto, em que três dos quatro títulos são originais portugueses. Já os oito romances publicados em Lisboa são predominantemente traduções (com exceção de apenas dois títulos: Ruy de Miranda, de Ayres Pinto de Souza de Mendonça e Menezes, de 1849, e Mario, de Antonio Silva Gaio, de 1868).

Em “Narrativas que viajam: os romances em português editados em Paris”, Paulo Motta Oliveira (2016) constata a existência de diversas narrativas ficcionais em português editadas na França ao longo do século XIX e associa esse fenômeno ao fato de o mercado editorial ser internacional no período. O acervo da biblioteca da família imperial confirma esse achado e amplia seu alcance ao constituir mais uma evidência de que não apenas a edição era transnacional; a circulação de romances também o era, dado também destacado pelo estudo de Franco Moretti acerca da presença de romances em bibliotecas francesas e inglesas (Moretti, 2003).

Assim, seja do ponto de vista das línguas em que foram publicados, seja da perspectiva dos locais de edição, os romances tinham uma forte dimensão internacional, conectando países e idiomas os mais diversos.

Se a constituição de acervos em várias línguas é fato comum no século XIX, a biblioteca imperial leva essa tendência ao extremo, fazendo com que o português seja a língua minoritária no conjunto, mesmo tendo ele sido constituído no período em que a família imperial se encontrava no Brasil. Resta pensar sobre a origem nacional dos autores e autoras presentes no acervo.

Os autores presentes no acervo de obras de ficção

Dentre os autores de maior proeminência na biblioteca, há uma predominância de europeus, com destaque para franceses, ingleses e alemães. A importância da França e da Inglaterra novamente não surpreende, tendo em vista que esses países foram o berço do romance moderno e eram centros editorais de destaque. O que chama a atenção, no entanto, é o fato de o autor com maior número de títulos na biblioteca ser Carl Franz van der Velde, escritor desconhecido na atualidade, até mesmo em sua pátria. Muito popular na Europa durante o século XIX com seus romances históricos (Schuster, 1982), é de sua autoria o maior número de obras: 24 narrativas publicadas entre 1819 e 1826. De acordo com Osman Durrani e Julian Preece (2001), o êxito de van der Velde na Alemanha se deveria à voga do romance histórico, o que explicaria também o grande número de títulos de Carolina Pichler, outra alemã autora de romances históricos de sucesso, dos quais seis fazem parte do acervo. Todos os romances de van der Velde presentes na biblioteca estavam em alemão, embora houvesse traduções de alguns deles para o português.13 Os de Carolina Pichler também estavam em língua alemã, com exceção de um título traduzido para o francês.14 A presença da autora no acervo ganha destaque quando se observa que um dos livros é Sämtliche Werke, ou seja, suas obras completas em alemão, em edição com 16 volumes, a maior parte deles contendo obras de ficção.

O interesse por romances históricos transparece também em alguns livros da escritora britânica Maria Edgeworth, pois, dos sete romances de sua autoria conservados no acervo, dois são históricos: Tomorrow e Leonora. Ela foi uma escritora prolífica, que compôs narrativas infantis e romances variados entre 1800 e 1848. O sucesso de seus livros chegou até Walter Scott, que, em um paratexto de Waverley, escreveu que Castle Rackrent, romance de Edgeworth lançado em 1800, serviu de inspiração para a sua obra (Franciscon, 2018, p. 54-55).

Walter Scott, o grande nome dos romances históricos e um dos escritores mais populares do século XIX, não poderia estar ausente na biblioteca, que conserva 19 títulos de sua autoria. Curiosamente, nenhum deles está na língua original inglesa: 16 estão traduzidos para o alemão e três para o francês. A circulação no Brasil de traduções francesas de romances ingleses era bastante comum no século XIX (Vasconcelos, s.d.), porém, há pouca informação sobre traduções alemãs dos livros de Walter Scott no país (Vasconcelos, 2008). Sua presença na biblioteca talvez se deva a uma preferência de leitura nessa língua por alguns membros da família imperial ou, mais especificamente, à predileção da imperatriz Leopoldina, que encomendava livros e objetos da Áustria com frequência (Kann; Lima, 2006).

Segundo Louis Maigron, Scott “foi mais que um sucesso, foi uma mania” e atingiu públicos de camadas sociais diferentes: “desde as modistas até as duquesas, desde as pessoas simples até os intelectuais, todos se renderam ao fascínio de Scott” (Maigron, 1912 apud Vasconcelos, 2008, p. 357). A presença de seus romances na biblioteca da família imperial e em gabinetes e bibliotecas públicas (Vasconcelos, 2008) parece confirmar essa avaliação, mostrando que, também no Brasil, o público amplo e o de elite tomaram parte na “mania” de ler as narrativas do escocês.15

Algo semelhante, porém em menor escala, ocorreu com Carl Franz van der Velde. Embora ele não esteja entre os autores mais corriqueiros em bibliotecas, gabinetes e livrarias brasileiras, não se pode dizer que fosse um completo desconhecido. Por exemplo, dois de seus livros estavam disponíveis na Biblioteca Fluminense, em cujo catálogo, publicado em 1866, constam A embaixada à China (Die Gesandtschaftsreise nach China), publicado em Lisboa, no ano de 1837, e Theodoro (Prinz Friedrich), saído à luz em Lisboa, em 1847 (Catálogo..., 1866, p. 162, 181). O romance Theodoro também foi anunciado pela livraria Garnier no Diário do Rio de Janeiro (1854, p. 3) e esse título, juntamente com A embaixada à China, está presente no catálogo de 1858 do Gabinete Português de Leitura (Catálogo..., 1858, p. 250, 271). Além disso, uma tradução do romance Der Flibustier, publicado primeiramente de maneira seriada no periódico de língua alemã Dresdner Abend-Zeitung, foi impressa, no ano de 1852, ao longo de cinco edições do jornal feminino Novo Correio de Modas (Assumpção, 2022, p. 356-358).

O mesmo vale para Maria Edgeworth, cujos romances estavam presentes em instituições públicas diversas, tais como a Biblioteca Rio-Grandense (Ramicelli, 2016, p. 102), e eram vendidos em livrarias do Rio de Janeiro, com destaque para sua produção destinada à infância. Moral tales, por exemplo, foi anunciado à venda entre outros “English books” no Jornal do Commercio (1870, p. 7); já seu livro Contos familiares estava disponível em português para os frequentadores do Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro (Catálogo..., 1913, p. 112).

Alguns dos autores de língua francesa de sucesso também contam com obras na biblioteca. É o caso de Eugène Sue, que aparece com 12 títulos, incluindo três edições diferentes de seu famoso Les mystères de Paris e uma edição em português publicada no Rio de Janeiro em 1851. Publicado pela primeira vez em folhetim, no Journal des Débats, entre junho de 1842 e outubro de 1843, foi traduzido e circulou quase simultaneamente por diversos países da Europa em mais de 19 línguas (Schapochnik, 2010). No Brasil, uma tradução para o português foi publicada em folhetim no Jornal do Commercio entre 1844 e 1845, e posteriormente em volume, o que permitiu que sua narrativa atingisse os mais diversos tipos de público.

Outro autor francês que se destaca tanto quanto Sue é Alphonse Karr, que também conta com 12 romances na biblioteca, todos na língua original, sendo a edição mais antiga de 1856, Contes et nouvelles, e a mais recente de 1887, Le pot aux roses. Os títulos conservados na biblioteca não esgotam todo o contato da família com suas obras, já que um dos títulos anotados no documento “Gastos do imperador com livros”16 não foi incorporado ao acervo: Le reigne des champignons, adquirido em 1886, na livraria de Garnier. Percebe-se, assim, não apenas mais um indício de que Karr pode ter sido um dos autores preferidos da família de Pedro II, mas também que o conjunto de obras que estamos analisando é apenas uma parcela daquilo que a família imperial teria lido.

Alphonse Karr foi autor de destaque na França,17 mas de menor difusão no Brasil, o que não significa, no entanto, que o acesso às suas obras não fosse possível ao público local. Basta ver, por exemplo, que a Tipografia do Jornal do Commercio publicou a tradução de seu romance Para não serem treze, em 1842 (Santana Júnior, 2016, p. 854), e que o periódico Novo Correio de Modas lançou A mão esquerda, em 1853 (Donegá, 2013, p. 254).

Outros escritores franceses populares são Émile Erckmann e Alexandre Chatrian, dois irmãos que escreviam suas obras em conjunto e as assinavam com o nome Erckmann-Chatrian. A família imperial conservou dez de seus romances na biblioteca, todos escritos em francês e publicados em Paris. Ao longo de sua vida, eles publicaram mais de sessenta títulos, contendo pequenas histórias, romances e peças de teatro, que descreviam a vida nas cidades da França e promoviam o patriotismo, pelo que foram elogiados por autores como Flaubert e Zola (Przybós, 2009). Com igual destaque na biblioteca, há obras de Benjamin Disraeli, escritor britânico de relativo sucesso no período, que está presente no acervo com dez títulos, dos quais oito edições em inglês e duas em francês.

Esses autores contavam com pouca ou nenhuma tradução para o português, mas também estavam à disposição do público amplo. Por exemplo, o Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro franqueava aos frequentadores 13 romances de Erckmann-Chatrian, todos em francês, e três romances de Benjamin Disraeli, em inglês (Catálogo..., 1858).

A biblioteca imperial conserva, também, obras de escritoras de sucesso, como Felicité de Genlis, que aparece com 12 de seus romances, e Madame Augustus Craven, com sete, todos em língua francesa. Segundo Martine Reid (2008), Felicité de Genlis foi uma autora de sucesso de público e obteve grandes ganhos financeiros com suas obras. Seu êxito não se restringiu ao território francês, pois, segundo Taís Franciscon (2016, p. 101), ela está entre os romancistas mais anunciados no jornal The Times, de 1800 a 1820, aparecendo com 25 obras.

Além de Maria Edgeworth, já comentada, destaca-se também a britânica Ann Radcliffe, com oito romances, todos presentes na biblioteca imperial em francês. Sua leitura não estava restrita aos nobres, pois poderia ser apreciada pelo público amplo que frequentasse o Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro ou a Biblioteca Rio-Grandense, conforme demonstram estudos de Alexandro Paixão (2016) e Maria Eulália Ramicelli (2016).

A biblioteca conservava também outros sucessos de público, alguns em várias edições. Por exemplo, há três edições de Historie de Gil Blas de Santillane, de Alain René Lesage, publicadas em francês nos anos de 1788, 1838 e 1864; romance que estava entre os mais remetidos para o Brasil no período colonial (Abreu, 2002, p. 132), um dos títulos mais requisitados na Biblioteca Nacional entre 1833 e 1840 (Rocha, 2011, p. 75) e um dos mais anunciados no Jornal do Commercio entre 1810 e 1843 (Mançano, 2010, p. 277). A coleção continha, também, livros semelhantes àqueles que estão entre os mais procurados por leitores na Biblioteca Nacional e Pública do Rio de Janeiro entre 1833 e 1856 (Rocha, 2011), como Les mille et une nuits, de Galland, em edição publicada em 1881 pela Librairie dos Bibliophiles, em Paris. Há, ainda, três romances de Fenimore Cooper, um dos autores mais mencionados em anúncios de leilão de livros publicados no século XIX (Tognolo, 2018, p. 117-118): O espião do campo neutral (tradução publicada em Lisboa, em 1840), O piloto (tradução para o português impressa em Paris, em 1838), e o Derradeiro mohicano, (traduzido por Caetano Lopes de Moura e publicado também em Paris, em 1858). O catálogo contava, também, com uma edição de 1860 de Les travailleurs de la mer, de Victor Hugo, autor de destaque entre os mais mencionados em anúncios de leilão do período.

Os romances de origem portuguesa também faziam parte do acervo, ainda que com poucos títulos. Entre eles, destaca-se o português Alexandre Herculano, com dois de seus livros no acervo. Surpreendentemente, ambos estão em tradução para o espanhol: Eurico el presbítero (tradução de 1875) e El monje del cister (de 1877). Essa informação é uma evidência de que, mesmo entre as línguas de menor destaque na circulação de impressos no século XIX, como o português e o espanhol, as obras eram traduzidas e circulavam em diversos idiomas. Também estavam presentes Luís de Magalhães, com O brasileiro Soares, publicado no Porto em 1886; Aires Pinto de Sousa de Mendonça e Meneses, com o romance histórico Ruy de Miranda, impresso em Lisboa no ano de 1849; e João Vaz, com uma edição de ١٨٦٨ de Villa Nova de Gaia. A biblioteca contava, ainda, com dois livros de Júlio Diniz, autor que fez parte das leituras comentadas por Pedro II e pela princesa Isabel em suas cartas (Assumpção; Abreu, 2021). São eles: Uma família inglesa: cenas da vida do Porto (edição de 1870) e Serões da província (edição de 1870), ambos impressos no Porto.

Ainda mais surpreendente é o fato de haver apenas 14 obras brasileiras no acervo, todas escritas por autores não canonizados e hoje bastante desconhecidos, com exceção de Machado de Assis, que comparece com uma edição de 1884 de seu livro Histórias sem data. A coleção conservou obras de José Higino Sodré Pereira da Nóbrega, com Os salteadores punidos: romance brasileiro (1851), João Manuel Pereira da Silva, Jeronimo Corte Real (1865), Antônio Luís von Hoonholtz, com A corveta Diana: romance marítimo original brasileiro (em uma edição publicada em Manaus, em 1873), J. Tito, com Mimi: romance brasileiro (1873), Teotônio Meireles, com O padre Esmerati: romance militar (edição de 1876), D. J. da Fonseca, com uma edição de Amor e morte: episódio contemporâneo (1876); Pedro Ribeiro Viana, com O roubo de um diamante (1881), Jorge Domingues, com Viagens imaginárias aos mundos habitados e inabitados (publicado no Rio de Janeiro em 1886), M. A. da Silva Júnior, com Angelina de Nazareth: romance original brasileiro (1886) e Antônio Vaz Pinto Coelho da Cunha, com uma edição não datada de Coração de ferro: romance do tempo colonial. Há, ainda, algumas brasileiras romancistas na coleção. A família imperial possuía duas edições de 1881 do Livro de Antonico: contos brasileiros, de Gabriela de Jesus Ferreira França, e uma edição de 1886 do livro Contos infantis em verso e prosa, de Júlia Lopes e Adelina Lopes Vieira.

Mesmo com essa diversidade de títulos e autores, o baixo número de obras em português no catálogo reforça a ideia de que o rol de livros conservados na biblioteca imperial não equivale ao conjunto de publicações com as quais a família pode ter tido contato, pois é difícil supor que um imperador tão interessado pelas letras e tão engajado com a constituição da nacionalidade por meio da literatura não tivesse lido outros romancistas brasileiros que participaram ativamente desse processo, como, por exemplo, José de Alencar. As informações contidas no documento “Gastos do imperador com livros”18 confirmam essa suspeita, pois registram que, em 31 de dezembro de 1872, foi feito o pagamento referente à aquisição de duas obras recentes de José de Alencar – O tronco do ipê e A pata da gazela –, que, entretanto, não foram arroladas entre os livros doados pela família para compor a coleção d. Thereza Christina Maria.

Conclusão

Ainda que os livros existentes na biblioteca imperial não tenham sido necessariamente lidos ou comprados por membros da família, e mesmo que eles tenham seguramente lido mais obras ficcionais do que as ali conservadas, a análise do acervo permite confirmar alguns achados de pesquisas anteriores – sobre a circulação transnacional de romances e as limitações do quadro desenhado pelas histórias literárias tradicionais – e avançar no conhecimento sobre o público leitor.

Dois elementos merecem consideração especial: a existência de leituras compartilhadas entre elite e o público; e a questão da leitura em língua materna.

Os dados sobre os romances e romancistas que mais se destacam na biblioteca imperial mostram que livros de diversos estilos e períodos conviviam e podiam ser adquiridos ao mesmo tempo: o acervo contém romances históricos, obras provenientes de publicações em folhetim, autores com sucesso de público, traduções para diversas línguas e títulos muitas vezes reeditados. O acervo permite perceber como a família imperial, assim como os outros leitores do período, formava o seu próprio repertório de leitura, que poderia conter ou não os autores que posteriormente seriam canonizados.

Ainda mais interessante é observar que leitores nobres, como os membros da família imperial, partilhavam leituras com pessoas comuns, que frequentavam bibliotecas públicas e gabinetes de leitura. Os moradores do Rio de Janeiro poderiam adquirir romances presentes no acervo imperial por meio dos livreiros estabelecidos na cidade ou de leilões, mas sequer tinham necessidade de comprar os volumes, já que muitos deles estavam presentes em estabelecimentos abertos ao público, como a Biblioteca Nacional ou o Gabinete Português de Leitura.

Embora a biblioteca imperial tivesse similaridades importantes com acervos destinados a públicos amplos, a coleção se diferencia das demais por incluir muitas obras em alemão e em italiano, línguas pouco frequentes entre os romances anunciados à venda em jornais (Mançano, 2010; Abreu; Tognolo, 2015) e presentes seja em catálogos de livreiros (Modenez, 2011), seja em bibliotecas públicas (Bessone, 1999; Rocha, 2011; Paixão, 2016). Sua relevante presença no acervo pode estar relacionada a preferências individuais e à formação inicial recebida pelos membros da família, nascidos e educados em diferentes partes da Europa. Os numerosos romances em alemão e em italiano oferecem indícios de que a língua materna é um elemento importante nas práticas de leitura, mesmo entre pessoas altamente instruídas, como os membros da família imperial. O apreço pela leitura em língua materna, no entanto, não deve ser confundido com nacionalismo, já que não se trata apenas de ler autores e obras nacionais, haja vista a abundância de traduções de autores de diversas nacionalidades para o alemão e o italiano.

Pode-se concluir, assim, que havia leituras partilhadas por pessoas de diferentes origens, formações culturais, profissões e estratos sociais, em diferentes línguas e edições. Não parece adequado, portanto, pensar a literatura de um determinado país de maneira separada da dos outros. A produção literária, assim como a formação das nacionalidades, foi algo realizado em conjunto, e não individualmente, e as fontes primárias do século XIX nos permitem encontrar indícios sobre como se deu esse processo.

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Recebido em 17/1/2023

Aprovado em 17/4/2023


Notas

1 O documento é mencionado na edição de 1891 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (Actas...1891, p. 223).

2 No século XIX, a terminologia empregada para designar essas obras era instável, podendo ser referidas como romance, novela, conto, lenda, fábula ou história (Abreu, 2021). Neste artigo, a fim de evitar a confusão gerada pela falta de estabilidade nas designações, usaremos o termo romance para referir o conjunto de obras de prosa de ficção.

3 Embora o desprestígio da prosa de ficção tenha sido atenuado ao longo do século XIX, sua aceitação plena tardou a se produzir. Antonio Candido lembra que “foi a crítica militante do século XIX que reconheceu a categoria do romance e o tratou devidamente; mas nos colégios ainda se ensinava na minha geração uma retórica e uma poética defasadas, que não o incluíam no rol dos gêneros, nem sequer o mencionavam, embora os romancistas fossem comentados pelos professores e incluídos nas antologias” (Candido, 1989, p. 72, grifo nosso). O desprestígio do gênero se percebe também no fato de ele ter se tornado parte do currículo escolar francês apenas em 1923, estando ausente das salas de aula da França durante todo o século XIX (Augusti, 2010).

4 A presença da prosa de ficção no território brasileiro foi aferida por meio do estudo de diários, catálogos de livreiros, acervos de bibliotecas e gabinetes de leitura, anúncios publicitários. Ver Ramicelli (2016); Augusti (2016, 2014); Souza (2014); Sales (2013); Silva (2011); Rodrigues (2008), Barbosa (2014); Silva et al. (2007).

5 Sobre a circulação e a recepção de romances no século XIX, ver Abreu (2016).

6 A leitura da Revue des Deux Mondes pelos membros da família imperial pôde ser observada nas suas cartas pessoais, que fazem parte do acervo do Museu Imperial de Petrópolis (Ibram/MinC). Arquivo Grão Pará, documentos AGP XXXIX-1 e AGP XLI-3.

7 Detalhando os números, verifica-se que 0,3% das obras do acervo foram publicadas na década de 1770, 0,8% em 1780, 1,6% em 1790, 3,4% em 1800, 13,6% em 1810, 15,8% em 1820, 6,9% em 1830, 8,9% em 1840, 14,6% em 1850, 8% em 1860, 12,8% em 1870 e 12,8% em 1880.

8 Foi possível identificar a data da primeira edição de 419 títulos.

9 Em detalhe, os valores são os seguintes: 0,2% foi publicado pela primeira vez na década de 1530, 0,2% em 1580, 0,9% em 1600, 0,9% em 1610, 0,2% em 1620, 0,2% em 1660, 0,2% em 1690, 0,9% em 1710, 0,5% em 1720, 0,2% em 1730, 1,2% em 1740, 0,5% em 1750, 2,6% em 1760, 3,8% em 1780, 3,8% em 1790, 0,7% em 1800, 10,2% em 1810, 15% em 1820, 8,6% em 1830, 8,6% em 1840, 8,8% em 1850, 6,9% em 1860, 10,5% em 1870 e 7,1% em 1880.

10 Pormenorizadamente, o acervo conserva 397 títulos em francês, 84 em alemão, 70 em italiano, 47 em inglês, 44 em português, 24 em espanhol e um em latim.

11 Ver também Schapochnik (2016).

12 Dados baseados nos 597 romances cujo local de edição estava indicado no catálogo da biblioteca da família imperial.

13 O romance Die Gesandtschaftsreise nach China, de Carl Franz van der Velde, foi traduzido para o português como A embaixada à China e publicado em Lisboa em 1837; Prinz Friedrich, traduzido como Theodoro, também saiu à luz em Lisboa, em 1847. Uma tradução do romance Der Flibustier, publicado primeiramente de maneira seriada no periódico Dresdner Abend-Zeitung, foi impressa ao longo de cinco edições do jornal feminino Novo Correio de Modas em 1852.

14 Seu romance Falkenberg foi traduzido para o português como Falkenberg ou o tio e publicado em Lisboa em 1844.

15 A família imperial não apenas conservava obras de Scott na biblioteca, mas lia e discutia alguns de seus romances em cartas trocadas entre eles (Assumpção, 2021).

16 Esse documento pertence ao Arquivo Grão-Pará, do acervo do Museu Imperial de Petrópolis (Ibram/MinC).

17 Segundo Júlio Modenez (2011), romances de Karr se destacam nos catálogos de Michel Lévy publicados ente 1860 e 1875.

18 Documento pertencente ao Arquivo Grão-Pará, do acervo do Museu Imperial de Petrópolis (Ibram/MinC).



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