Acervo, Rio de Janeiro, v. 36, n. 3, set./dez. 2023

O arquivo como objeto: cultura escrita, poder e memória | Dossiê temático

Arquivos em rede

A montagem do Arquivo Said Ali

Networked archives: the assembling of Said Ali Archive / Archivos en red: el montaje del Archivo Said Ali

Thaís de Araujo da Costa

Doutora em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professora adjunta de Língua Portuguesa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Brasil.

araujo_thais@yahoo.com.br

Daniele Barros de Souza

Graduanda em Letras (Português/Literaturas) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Brasil.

danielebssouza@gmail.com

Luís Fernando da Silva Fernandes

Graduado em Letras (Inglês) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Brasil.

dinkrygeo@gmail.com

Thairly Mendes Santos

Graduanda em Letras (Português/Literaturas) na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Brasil.

thairlys@gmail.com

RESUMO

Sustentando-nos no arcabouço da análise de discurso materialista e da história das ideias linguísticas, consideramos o arquivo como produto de gestos de interpretação determinados sócio-historicamente. Calcados na proposta de Costa (2023) em relação à constituição de arquivos em rede, relatamos o processo de montagem do Arquivo Said Ali, desenvolvido no âmbito do projeto Arquivo de Saberes Linguísticos (ILE-Uerj), e apresentamos uma prévia do catálogo em construção.

Palavras-chaves: arquivos em rede; Arquivo Said Ali; análise de discurso materialista; história das ideias linguísticas.

ABSTRACT

Drawing on the framework of materialist discourse analysis and the history of linguistic ideas, we consider the archive as a product of socially and historically determined interpretive gestures. Following Costa’s proposal (2023) regarding the constitution of networked archives, we report on the process of assembling the Said Ali Archive, developed as part of the Arquivo de Saberes Linguísticos project (ILE-Uerj), and provide a preview of the catalog under construction.

Keywords: networked archives; Said Ali Archive; materialist discourse analysis; history of linguistic ideas.

RESUMEN

Tomando como base el marco teórico del análisis materialista de discurso y de la historia de las ideas lingüísticas, consideramos el archivo como un producto de los gestos de interpretación social e históricamente determinados. Siguiendo la propuesta de Costa (2023) con relación a la constitución de archivos en red, informamos sobre el proceso de montaje del Archivo Said Ali, desarrollado como parte del proyecto Arquivos de Saberes Linguísticos (ILE-Uerj), y presentamos un análisis preliminar del catálogo en construcción.

Palabras clave: archivos en red; Archivo Said Ali; análisis materialista de discurso; historia de las ideas lingüísticas.

nos arquivos se inscrevem sintomas da época
em que foram organizados [...].
Mariani (2016, p. 17)

Introdução

A epígrafe recortada de Mariani (2016) com que introduzimos este artigo estabelece o tom da discussão que nos propomos a empreender, no sentido em que inscreve a prática arquivística, tal como é tradicionalmente concebida, como produto de gestos de interpretação realizados por sujeitos determinados institucional e sócio-historicamente. Isso significa que entendemos, tal como a autora, que, “na organização dos arquivos, sempre se encontram os efeitos do funcionamento da ideologia, naturalizando alguns processos de significação e, simultaneamente, apagando outros” (Mariani, 2016, p. 15), o que implica, respectivamente, colocar determinados sentidos “para serem lidos e repetidos (o que é canônico, hegemônico)” e outros para serem “recalcados, silenciados, interditados” (p. 17).

Com base nesse pressuposto, é nosso objetivo lançar luz sobre o processo de montagem do Arquivo Said Ali, que vem sendo construído no âmbito do projeto Arquivos de Saberes Linguísticos (SaberLing/Uerj/Faperj),1 no Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ILE-Uerj). Para tanto, organizamos nossa reflexão em quatro seções, além desta introdução e da conclusão. Na primeira seção, visando contribuir para o debate sobre o arquivo enquanto objeto, discorreremos sobre o conceito de arquivo a partir da análise de discurso materialista, dispositivo teórico-metodológico que, na sua relação com a história das ideias linguísticas, sustenta o nosso trabalho. Na segunda, apresentaremos o projeto Arquivos de Saberes Linguísticos, buscando ainda justificar a necessidade de montagem de arquivos sobre o conhecimento metalinguístico no/do Brasil. Na terceira, faremos uma breve exposição da biografia de Manuel Said Ali Ida (1861-1953), intelectual a cujos dizeres se dedica o primeiro arquivo do projeto. Na quarta, detalharemos as etapas de montagem do Arquivo Said Ali, calcando-nos na proposta de Costa (2023) em relação à constituição de arquivos em rede, e divulgaremos uma prévia atualizada de um dos catálogos em construção. Por fim, na conclusão, retomaremos os principais pontos da nossa proposta e refletiremos acerca da narrativização de histórias a partir dos arquivos construídos.

Feita esta breve introdução, passemos à discussão acerca do conceito de arquivo.

O arquivo visto discursivamente

O que (não) pode e (não) deve ser arquivado/lembrado? Quem (não) pode ou (não) deve ler os documentos arquivados? O que (não) pode e (não) deve ser lido em determinada conjuntura sócio-histórica? Essas são questões com as quais nos defrontamos quando pensamos o arquivo à luz da perspectiva discursiva que se organiza em torno do nome do filósofo francês Michel Pêcheux.

Esse teórico, partindo da constatação de que, ao se tratar de arquivo, “a questão da leitura permaneceu quase sempre implícita”, propõe um distanciamento da concepção tradicional a partir da qual o arquivo é, comumente, tomado como um “campo de documentos pertinentes e disponíveis sobre uma questão” (Pêcheux, 2010 [1982], p. 51). Em seu entender, havendo “fortes razões para se pensar que os conflitos explícitos remetem em surdina a clivagens subterrâneas entre maneiras diferentes, ou mesmo contraditórias, de ler o arquivo”, impõe-se que, diante dele, empreenda-se uma “leitura’ interpretativa” de modo a constituir “um espaço polêmico das maneiras de ler” (p. 51, grifos do autor) os documentos que o integram. É, então, com esse propósito que sugere que a historicidade do “sistema diferencial dos gestos de leitura subjacente” seja reconstruída considerando os três momentos distintos que antecipamos com as perguntas com que introduzimos esta seção e que concernem (i) à “construção do arquivo”; (ii) ao “acesso aos documentos”; e (iii) à “maneira de apreendê-los” (p. 51).

Entendemos que tais momentos são determinados pela política institucional, que, como esclarece Mariani, são “políticas de controle do arquivo” (Mariani, 2016, p. 21) a partir das quais se determina não só o que (não) pode/deve constituir o arquivo, o que (não) pode/deve ser preservado, mas também onde e como deve ser organizado. Assim é que, conforme a autora, lembrando o período da ditadura militar que assolou o Brasil de 1964 a 1985:

As condições históricas de produção, em seus momentos de maior ou menor democratização do Estado, marcam a constituição dos arquivos – com suas técnicas de marcar, identificar, classificar, comparar, ordenar, reunir e separar documentos –, estipulando a regulação administrativa, jurídica, econômica e política do que pode e deve circular na sociedade em termos de textos e produções de sentidos a eles vinculados. (Mariani, 2016, p. 14)

Quanto a isso, lembremos ainda o que nos diz Mbembe (2002, p. 2) a respeito dos efeitos do processo de transformação de um simples documento em documento “arquivável”, isto é, em arquivo. Segundo o autor, nesse processo, os documentos, destituídos daquilo que faria deles documentos comuns, passam a exercer funções diferentes das anteriores. Assim, uma vez “avaliados como dignos de serem preservados e mantidos em um lugar público onde possam ser consultados de acordo com procedimentos e regulamentos bem estabelecidos”, os documentos arquiváveis passam a configurar-se, em seu entender, em primeiro lugar, como “o produto de um julgamento, o resultado do exercício de um poder e autoridade específicos que envolve guardar determinados elementos em um arquivo ao mesmo tempo em que outros são descartados”. A constituição de um arquivo implica, em suma, gestos “de discriminação e seleção, que, no final das contas, privilegia[m] alguns documentos escritos e nega[m] privilégios a outros julgados ‘inarquiváveis’” – daí concluirmos com Mbembe que “o arquivo é, portanto, não um ajuntamento de dados, mas um status”.

O terceiro momento apontado por Pêcheux, no entanto, se, por um lado, diz respeito ao olhar daquele que descreve o seu conteúdo com vistas a elaborar instrumentos de pesquisa, por outro, coloca em cena também o olhar daquele que ousa mergulhar nos meandros do arquivo para pesquisar. Segundo Mariani (2016, p. 16), nesse último caso, trabalhar com arquivos é “também trabalhar com nossa própria discursividade” – daí a importância de o pesquisador, mediado pela teoria, não se permitir ludibriar “pela quantidade de material disponível”, “por uma aparente transparência e pelas construções de evidências” projetadas pelo arquivo. Ao contrário, a seu ver, é preciso que ele tenha não só “um olhar opaco e errante”, permitindo-se “apanhar pelas redes significantes que circulam em um arquivo” (Mariani, 2016, p. 16), interrogando-as, mas também determinado, “em sua dupla acepção: determinado por seus objetivos e com a determinação própria – tenacidade – de quem se coloca no lugar de pesquisa” (p. 17).

Problematizar esses diferentes momentos é, pois, em nossa perspectiva, pensar o arquivo, tal como propusera Pêcheux, em sua relação indissociável com a interpretação. É, ainda, tomá-lo em sua historicidade, compreendendo a sua (des)organização – conforme Costa (2023) – como efeito e, enquanto tal, como produto de gestos de interpretação/leitura empreendidos por sujeitos (o que avalia, o que adquire, o que classifica, o que descreve, o que preserva, o que difunde, o que pesquisa etc.) que são determinados pelas injunções das condições de produção em que se inscrevem. Por último, faz-se necessário frisar que consideramos residir nesse funcionamento do arquivo a ambivalência de que nos fala Robin (2016, p. 318) ao asseverar que o ato de arquivar “não é sinônimo de efeito de memória”, mas “poderia bem ser, ao inverso, uma gigantesca maquinaria de esquecimento através do ato de aprisionar a memória e de fixá-la”.

O projeto Arquivos de Saberes Linguísticos

Trabalhar com arquivos é “lidar com a memória institucionalizada”, nos lembra Mariani (2016, p. 17), e, por conseguinte, tendo em vista o exposto na seção anterior, considerar, como propõe Derrida (2001, p. 31), que “o sentido arquivável se deixa também, e de antemão, codeterminar pela estrutura arquivante”. Indo adiante, Mariani (p. 19) recorda-nos ainda “que nenhum arquivo institucionalizado esgota uma temática”, mesmo que seja, comumente, afetado pela ilusão de completude. Essa ilusão, associada à de transparência de sua organização “com uma lógica aparentemente inequívoca” (p. 21), coloca em cena, conforme Costa (2023, p. 221), dois esquecimentos, quais sejam: 1. “o de que há outros documentos que poderiam estar ali e não estão” – porque historicamente apagados ou porque não preenchem, numa dada conjuntura, aquilo que Mbembe (2002, p. 2) chamou de “requisitos de ‘arquivabilidade’” – e 2. “o de que os efeitos produzidos pela sua organização podem ser sempre outros, inclusive, [...] o de desorganização, dispersão, confusão” (Costa, 2023, p. 221).

Que todo arquivo é necessariamente constituído pela falta é também o que assinala Derrida (2001, p. 22) ao afirmar que “não há arquivo sem exterior”. E disso decorre o fato de que uma pesquisa acaba sendo regularmente realizada na dispersão (Mariani, 2016), isto é, na dispersão dos documentos que (por vezes, fortuitamente) são encontrados (quando o são) em diferentes arquivos. Falta e dispersão são, pois, duas características constitutivas dos arquivos institucionais que, como se buscará explicar, o projeto Arquivos de Saberes Linguísticos (SaberLing) tem como princípio tensionar.

O SaberLing foi fundado em 2021 a partir de um projeto maior, o Grupo Arquivos de Língua, da Universidade Federal Fluminense (GAL-UFF),2 com coordenação de Vanise Gomes de Medeiros e de Phellipe Marcel da Silva Esteves. O GAL é constituído, conforme Medeiros, Esteves e Zanella (2019, p. 102-103), por 22 arquivos “com e de línguas”, os quais são coordenados por pesquisadores de diferentes instituições, nacionais e internacionais. Esses arquivos são pensados como “arquivos dentro de arquivos de línguas” que funcionam como “um espaço-janela no interior do grande espaço arquivo-observatório”. Desse modo, tomando-os, ao mesmo tempo, como sinalização de lugares de falta e de possibilidade de criação de vazios “que, por sua vez, movimentam saberes” e “abrem para novos conhecimentos” (Medeiros; Esteves; Zanella, 2019, p. 100), espera-se com eles, segundo os autores, recuperar “memórias, ausências, equívocos, capturando vozes e dizeres outros” (p. 102).

Como se pode notar, o SaberLing nasceu com um compromisso preestabelecido, qual seja: o de possibilitar a realização de escutas que pudessem promover a desestabilização dos “universos logicamente estabilizados”, de que nos fala Pêcheux (2006 [1983], p. 53), no tocante especificamente às ideias linguísticas. Por ideias linguísticas, compreendemos, com Auroux (1989, p. 15), os “saberes” produzidos sobre a linguagem e representados, construídos e manipulados enquanto tais por meio de uma metalinguagem – daí referirmo-nos a elas também como saberes ou conhecimentos metalinguísticos.

Ainda de acordo com o autor, essas “representações de fenômenos linguísticos” (Auroux, 1998, p. 268, tradução livre) são externalizadas em objetos empíricos, como as gramáticas, os dicionários, os livros didáticos, entre outros. É, pois, a esses objetos, que documentam saberes sobre as línguas e a (meta)linguagem, que o historiador das ideias linguísticas tem acesso para construir a sua representação da história (ou de uma certa história) do conhecimento linguístico-gramatical – donde a consideração de que algumas representações podem ser “melhores do que outras” e que “todas são necessariamente parciais” (Auroux, 2021 [2006], p. 9). Quanto ao adjetivo linguístico articulado ao substantivo ideias, Auroux esclarece que é empregado em sentido lato como “concernente à linguagem”, não se limitando, portanto, àqueles que, numa dada conjuntura, são considerados como científicos (Auroux, 1989, p. 15, tradução nossa).

Como visto na seção anterior, todo arquivo institucional é regulado por políticas de controle que determinam o que (não) pode/deve ser arquivado, preservado. Foi nesse sentido que, com Mariani (2016, p. 21), fomos levados a questionar o quanto a localização em um arquivo de um dado documento, e não de outros, “tem a ver com a seleção [...] do que pode ser registrado como passado a ser lido no futuro”. A partir desse questionamento, tornou-se possível compreender, no âmbito da história das ideias linguísticas no/do Brasil, então, o esquecimento de uns autores, de seus textos e dos saberes linguísticos a eles filiados, em oposição a outros que continuam sendo lidos e repetidos, promovendo a naturalização de evidências sobre a (meta)lingua(gem), tanto como efeito de políticas institucionais como de políticas teórico-científicas (cf. Orlandi, 2019; Costa, 2021).3 Foi, portanto, em vista disso, que se impôs para nós a necessidade de construir arquivos de saberes linguísticos que, inscritos numa rede de arquivos, possibilitem intervir no trabalho de gestão da memória do conhecimento linguístico-gramatical no/do Brasil. Para tanto, à luz da proposta de Auroux (1998), recortamos, como objetos empíricos preferenciais dos arquivos a serem construídos, obras historicamente significadas como raras e especiais, de grande relevância para a reflexão linguístico-gramatical.

Para conceituação de “obras raras”, consideramos inicialmente dois critérios estabelecidos pela Biblioteca Nacional, quais sejam: raridade e preciosidade,4 articulando-os às características físicas e de conteúdo da obra, tal como previsto pelo Sistema de Bibliotecas da Unicamp. Assim, tomamos como obras raras “documentos únicos, escassos, inéditos e preciosos, com valor no mercado livreiro ou valor como artefato, significado histórico e/ou intelectual”, além de edições que, a despeito do parâmetro cronológico, configuram-se como “clandestinas”, “de tiragem reduzida”, “especiais” (de luxo para bibliófilos) ou “consagradas esgotadas e não reeditadas”, bem como aquelas que apresentam valor extrínseco, por conterem, por exemplo, “dedicatórias, marcas e assinaturas de pessoas ilustres”.5

Na arquivística e na biblioteconomia, a distinção entre obras raras e especiais, como observado, por exemplo, na categorização do Sistema de Bibliotecas da Unicamp, nem sempre é clara. Ainda assim, optamos por acrescentar o adjetivo “especial” à determinação do substantivo “obras” para pôr em relevo, por um lado, a heterogeneidade das materialidades que constituem os acervos dos arquivos (fotos/imagens, manuscritos, correspondências, livros, artigos, colunas, resenhas, prefácios etc.) e, por outro, a relevância historicamente atribuída (ainda que por vezes esquecida) por sujeitos inscritos em condições de produção específicas aos documentos arquivados para a reflexão linguístico-gramatical no/do Brasil.

Dessa maneira, considerando o compromisso supramencionado e o fundamento teórico de que o conhecimento metalinguístico é produzido historicamente, o que nos leva a conceber que “o saber não é neutro, óbvio ou transparente e que sempre pode ser outro” (Costa, 2023, p. 226), estabeleceu-se para o projeto o seguinte objetivo norteador: adquirir (quando possível) tais obras, organizar, catalogar, digitalizar, com reconhecimento óptico de caracteres (OCR), e disponibilizá-las on-line gratuitamente. Porém, dada por vezes a impossibilidade de obter o exemplar físico, passamos, para compor os catálogos em elaboração, como explicaremos adiante, a pesquisar em acervos de arquivos outros, institucionais e pessoais.

Com a construção de arquivos de saberes linguísticos, visamos, então, “recolocar em circulação saberes, muitas vezes historicamente silenciados, sobre a(s) língua(s) no/do Brasil e sobre os sujeitos nessas/dessas línguas” e “viabilizar, por meio da facilitação do acesso [...], a realização de novos estudos por parte de pesquisadores filiados a diferentes perspectivas teóricas e instituições” (Costa, 2023, p. 227). Tendo em vista esse propósito, temos, desde a instituição do projeto, priorizado o Arquivo Said Ali, sobre o qual versaremos nas próximas seções. Além desse arquivo, porém, dois encontram-se em fase inicial de organização e um terceiro está previsto para ser iniciado ainda neste ano. São eles: o Arquivo Antenor Nascentes, o Arquivo Clóvis Monteiro e o Arquivo de Livros Didáticos,6 respectivamente.

Cabe pontuar que, diferentemente do que determina a prática arquivística, não diferenciamos o termo empregado para designar o serviço que detém a custódia dos documentos dos conjuntos documentais organizados, até porque, como se verá, para o que se propõe, ter a custódia dos documentos nem sempre se fará relevante. Por isso, ressaltando, na esteira de Pêcheux (2010 [1982]), a questão da interpretação, preferimos designar tudo como arquivo e definir o Arquivos de Saberes Linguísticos como um conjunto de arquivos.

Também o conceito de documento com que trabalhamos diferencia-se do que comumente se concebe como documento arquivístico. Uma reflexão mais aprofundada a respeito desse conceito à luz da perspectiva discursiva da história das ideias linguísticas foi desenvolvida por Costa (2021). Por ora, gostaríamos apenas de ressaltar que, tal como Nunes (2008, p. 82-83), entendemos por textos documentais tudo o que viabiliza a realização daquilo que o autor designou como discurso documental, isto é, “um saber científico, que toma forma na relação com as instituições, os sujeitos da ciência, os meios de circulação do saber, dentre outros aspectos conjunturais”, produzindo “uma historicização da ciência” (grifos nossos). Tal discurso, ainda segundo Nunes (2008, p. 82-83), é constituído tanto por “textos documentadores (descrições, comentários, resumos, indexações, bibliografias, periodizações etc.)” quanto por “textos a serem documentados” (as obras, mas também os manuscritos, os textos publicados em periódicos, as cartas, as imagens etc.), residindo nesta última categoria o nosso objeto de interesse na constituição dos arquivos.

Por último, antes de passarmos à reflexão a respeito do Arquivo Said Ali, devemos ainda problematizar a suposta “facilitação e falsa transparência de um arquivo” promovida pelo “surgimento da catalogação eletrônica e da digitalização”, aspectos que constituem o cerne de nosso projeto e para os quais Mariani (2016, p. 21) acena com certa preocupação. E isso porque, nos arquivos eletrônicos, o que chamamos de ilusões de completude e de transparência de organização são potencialmente ampliadas, alimentando o imaginário de tudo poder neles encontrar, quando de fato, como assevera a autora, nesses espaços também “está em jogo [...] uma questão política inscrita na constituição de qualquer arquivo”.

Assim sendo, faz-se preciso frisar que o SaberLing, uma vez que não está fora desse funcionamento ideológico, não tem por objetivo atualizar o “sonho de uma biblioteca universal” de que nos fala Chartier (1998), relacionando-o à chamada era digital. Para o autor, “com o texto eletrônico, a biblioteca universal torna-se imaginável (senão possível)” (Chartier, 1998, p. 117). Para nós, sendo a completude da ordem do impossível, a falta, seja no espaço físico ou digital, além de estruturante, é condição para a pergunta e, consequentemente, para a movimentação de saberes.

Entendemos, entretanto, assim como Chartier, que, com os arquivos eletrônicos, coloca-se a necessidade de se questionar o que se sonha quando se sonha com uma biblioteca ideal ou – em nosso caso – com um conjunto de arquivos de saberes linguísticos disponíveis gratuitamente no espaço digital. Comecemos explicitando do que não se trata para nós. Não se trata apenas de uma questão de acúmulo documental ou, nas palavras de Chartier, do desejo de “ver reunido o máximo de conhecimentos em um espaço delimitado” (Chartier, 1998, p. 118). Tampouco se trata, face à proliferação de textos escritos na sociedade contemporânea e do inegável problema gerado no que concerne ao espaço para arquivamento, de incentivar a substituição irrestrita do suporte físico pelo eletrônico, até porque, tal como o autor, consideramos que “a forma do objeto escrito dirige sempre o sentido que os leitores podem dar àquilo que leem” (p. 128). Trata-se, sim, de possibilitar maneiras outras de lidar com a falta e com a dispersão constitutivas de todo e qualquer arquivo, de democratizar o acesso a obras raras e especiais – cuja manipulação física constante poderia implicar a sua deterioração – e de, com isso, como dito, recolocar em circulação saberes por vezes esquecidos, possibilitando ainda a realização de novas investigações e a narração de histórias outras sobre o conhecimento linguístico-gramatical brasileiro.

Calcado nesses princípios, o Arquivos de Saberes Linguísticos, um projeto interinstitucional Uerj-UFF, se propõe a conversar com arquivos outros, institucionais (públicos e privados) e pessoais, de colecionadores ou pesquisadores, promovendo a constituição de arquivos em rede. Sua proposta se baseia, como já pontuado, na observação de que frequentemente os documentos sobre uma mesma temática ou filiados a um mesmo nome de autor encontram-se dispersos em diferentes arquivos. Assim, embora, como explica Costa (2023, p. 230), os arquivos se organizem em rede, isto é, encontrem-se enredados pelos documentos que os constituem, essa organização é “muitas vezes apagada pela dispersão das obras em arquivos incomunicáveis”.

A formulação arquivos em rede joga, pois, com o equívoco. Os arquivos, em sua dispersão, encontram-se em rede; e o SaberLing tem por propósito fazê-los conversar, se comunicar, por meio da/na rede, lançando luz sobre a dispersão e a falta que os constituem, tensionando-as. Para tanto, os pesquisadores envolvidos têm realizado um minucioso trabalho de curadoria, pesquisa e descoberta, visitando presencial ou virtualmente arquivos, bibliotecas e sebos com vistas a construir catálogos (de produção intelectual, correspondências, fotos/imagens etc.). Esses catálogos serão disponibilizados no site no projeto que se encontra alocado no portal do ILE-Uerj.7 Por meio dele, o pesquisador poderá:

I. ler on-line as obras que estão sob a custódia do projeto ou para as quais se estabeleceram acordos de colaboração para digitalização;

II. acessar links que levam a documentos que, sob a guarda de outras instituições, já se encontram digitalizados;

III. ler transcrições atualizadas desses documentos quando a imagem digitalizada não apresentar qualidade; e

IV. identificar a localização do documento físico, caso não esteja sob a guarda do projeto, não tenha sido possível estabelecer parcerias para sua digitalização ou a instituição custodiadora ainda não a tenha realizado.

Tendo apresentado os princípios norteadores do projeto Arquivos de Saberes Linguísticos, nos deteremos nas próximas seções ao Arquivo Said Ali. Antes, contudo, faz-se preciso apresentar aquele a quem se dedica o nosso primeiro arquivo.

Quem foi Said Ali?

Tamanha era a aversão que tinha ao gênero biográfico que “jamais teremos uma biografia do professor Said Ali sem grandes e irremovíveis lacunas”, nos adverte Bechara (2022, p. 205). Apesar disso, não poderíamos apresentar o arquivo em construção sem ao menos tentar esboçar algumas palavras sobre aquele que o intitula, a fim de relacionar a sua produção intelectual à sua trajetória.

Manuel Said Ali Ida nasceu em Petrópolis, em 21 de outubro de 1861, e faleceu no Rio de Janeiro, em 27 de maio de 1953, aos 92 anos. Sua mãe era a alemã Catarina Schiffler. Seu pai, o turco Said Ali Ida, falecera em 1863, quando o menino contava apenas dois anos de idade. Era dono do Hotel d’Europa, que, denominado também de Hotel Oriental, de acordo com o Anuário do Museu Imperial do Rio de Janeiro (Brasil, 1948), ficava em Petrópolis, lugar onde Said Ali nasceu e morou durante boa parte da sua vida.

De acordo com Bechara (1962), um dos seus discípulos mais proeminentes, teria vivido até os 14 anos na cidade serrana, quando então se mudou para o Rio de Janeiro para estudar e trabalhar em um comércio. Não é, contudo, possível precisar essa informação, pois, em entrevista concedida anos depois a Costa e Faria (2022), Bechara afirma que Said Ali se mudara apenas em 1944, após ter se tornado viúvo da alemã Gertrudes Gierling, com quem se casara, em Bruxelas, em 1900. Uma vez que o casal não tivera filhos, Said Ali, já com 83 anos, teria se mudado para o Rio de Janeiro para morar com uma sobrinha-neta. Até então, ao que parece, como sugerem as datações das cartas enviadas ao renomado historiador e amigo próximo Capistrano de Abreu, se dividia entre sua cidade natal, onde residia com a esposa, e a capital, onde desenvolvia atividades profissionais. Outra possibilidade aventada a partir da leitura de carta enviada por Capistrano a João Lúcio de Azevedo, em 31 de janeiro de 1926, é que Said Ali teria se mudado para a capital a contragosto, a pedido da esposa, após dois falecimentos: o da mãe de Gertrudes aos oitenta anos de idade e, em seguida, o de uma menina de 16 anos que o casal criava como filha em Petrópolis (Abreu, 1977b).

Fato é que, ainda bem jovem, tornou-se colaborador de uma distinta livraria, a Laemmert & Cia, fundada no Rio de Janeiro pelos alemães Henrique e Eduardo Laemmert. Foi por meio dessa editora que publicou suas primeiras obras e que pôde criar vínculos mais estreitos com eruditos da época, dentre estes o já citado Capistrano de Abreu, que também viria a ser seu colega no Colégio Pedro II. Com Capistrano, Said Ali, como anunciado acima, trocou cartas sobre assuntos diversos.8 Uma parte dessa correspondência – especificamente dez cartas enviadas, de 1913 a 1927, por Said Ali para o historiador – foi publicada, na década de 1970, no volume III da obra Correspondências de Capistrano de Abreu, organizada e prefaciada por José Honório Rodrigues. 9

A partir da leitura das cartas de Said Ali para Capistrano e também deste para outros interlocutores, ficamos sabendo, por exemplo, que o historiador foi quem indicou, em 1919, Said Ali para escrever as três gramáticas (a Histórica, a Secundária e a Elementar) que os irmãos Weiszflog demandavam e – mais do que isso – que ele participou ativamente do processo de escrita comentando e revisando os manuscritos originais (Abreu, 1977a; 1977b). Sabemos ainda, por meio de missiva enviada por Capistrano a Luís Sombra em 7 de dezembro de 1921 – ano de publicação de Lexiologia do português histórico, primeira parte da Gramática histórica da língua portuguesa –, que Said Ali, “na gana de acabar o mais depressa possível com a Gramática”, adoecera, e a esposa, que então não podia sair de casa por causa da mãe idosa, chegou a pedir a Capistrano para acompanhá-lo a uma estação das águas (Abreu, 1977b, p. 60) – o que, dentre muitas outras situações relatadas nas cartas, demonstra a relação próxima existente entre os dois.

Essa proximidade com o estudioso foi elementar para Said Ali intelectualmente, não somente no campo das línguas, portuguesa e indígenas, mas também no histórico-geográfico. Bechara pontua que o seu Compêndio de geografia elementar, de 1905, “foi inspirado na renovação dos estudos geográficos que, entre nós, vinha fazendo Capistrano” (Bechara, 2022, p. 207) e que essa obra “inaugura [...] uma divisão racional das regiões brasileiras – aliás, até hoje aceita –, conciliando, tanto quanto possível, as afinidades econômicas dos estados com as condições geográficas” (Bechara, 1962, p. 4).

Deve-se ressaltar, contudo, que havia reciprocidade na relação entre os dois, tendo sido a amizade com Said Ali também de inegável importância intelectual para Capistrano. Em carta de 7 de janeiro de 1907 a Guilherme Studart (Abreu, 1977a), Capistrano noticia, por exemplo, que conta somente com a ajuda de Said Ali para realizar a correção das provas de um livro que pela data da correspondência acreditamos ser Capítulos de história colonial.

No que respeita às línguas indígenas, por meio de cartas enviadas por Capistrano a Luís Sombra ao longo de 1910, conseguimos depreender não apenas o diálogo constante sobre a estrutura e o funcionamento de diferentes línguas, o que também comparece em cartas de Said Ali para Capistrano,10 mas também a participação ativa de Said Ali em Rã-txa hu-ni-ku-ĩ: gramática, textos e vocabulário caxinauás (1914), sobretudo no que concerne à composição da parte intitulada “Vocabulário brasileiro-caxinauá”. De acordo com Christino (2006), Sombra, que desempenhava a função de delegado do alto Tarauacá no então território acreano, foi o responsável pelo envio, em 1909, de Tuxinim, um menino com cerca de 13 anos de idade (Abreu, 1914), e de outros informantes caxinauás para colaborar na feitura da obra que, por diversos fatores, incluindo aí um incêndio que destruiu boa parte dos manuscritos originais, seria publicada somente em 1914. Assim, em cartas de 7 de agosto e de 18 de dezembro de 1910, respectivamente, lemos:

Felizmente meu vocabulário não pede senão revisão que levará poucos dias, e Said Ali também está trabalhando no dele. (Abreu, 1977b, p. 18, grifos nossos)

Pretendo partir sábado e levar Tuxinim. Peço-lhe, porém, que consinta continue comigo até sua partida ou até a conclusão da obra. O trabalho extensivo está terminado. A parte intensiva reclama a assistência dele, quer para corrigir o vocabulário, quer para ser comentado quanto à gramática. Além disso no Vocabulário Brasileiro Caxinauá dele precisará com frequência Said Ali. (Abreu, 1977b, p. 21, grifo nosso)

Em Rã-txa hu-ni-ku-ĩ: gramática, textos e vocabulário caxinauás (1914), encontramos dois vocabulários bilíngues: o “Vocabulário brasileiro-caxinauá” – atribuído explicitamente no segundo excerto a Said Ali e, a nosso ver, também no primeiro por meio do pronome dele – e o “Vocabulário caxinauá-brasileiro” – que entendemos ser atribuído no primeiro excerto por/a Capistrano por meio do pronome possessivo meu. Na obra publicada, porém, o nome de Said Ali aparece somente em um agradecimento no capítulo introdutório.11 Além disso, na parte intitulada “Vocabulário brasileiro-caxinauá”, em um parágrafo de abertura, a autoria é atribuída a Tuxinim.

A participação de Said Ali na obra é também confirmada pelo etnólogo alemão Ferdinand Hestermann (1878-1959) em um artigo intitulado “Die schreibweise der pano-vokabularien – mit benutzung von angaben J. Capistrano de Abreu’s und M. Said Ali Ida’s”12 e publicado no Journal de la Societé des Américanistes de Paris em 1919. Segundo Hestermann (1919), Capistrano de Abreu teria lhe enviado um pequeno esboço fonético da língua caxinauá escrito por Said Ali em outubro de 1912. O esboço foi publicado na íntegra, como uma espécie de apêndice, ao final do seu texto. Apesar disso, não há notícia até o presente momento de que Said Ali tenha publicado esse esboço fonético no Brasil e a referência que comparece no artigo de Hestermann é a da obra supramencionada de Capistrano, onde de fato encontramos nas páginas referidas um estudo fonético muito semelhante ao que fora atribuído a Said Ali e publicado pelo etnólogo alemão. Tais fatos justificam o não comparecimento de obras sobre essa temática no catálogo apresentado na seção seguinte. A exceção é a tradução de um estudo crítico do etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872-1924) realizada por Said Ali e publicada ao final de Rã-txa hu-ni-ku-ĩ a partir da sua segunda edição.13

Além de ter atuado intensamente como pesquisador em diversas áreas, depois de ter ensaiado as carreiras de pintor e de médico, segundo Macedo (2011) e Bechara (1962; 2022), Said Ali atuou também no magistério como professor de geografia e de línguas estrangeiras, notadamente de inglês, francês e alemão. Numa época em que colégios notáveis, como o Pedro II, onde foi catedrático de alemão de 1889 a 1925 (Doria, 1997), eram o principal lugar de circulação de saberes, foi o que hoje podemos chamar de um professor-autor, isto é, um professor que, legitimado pela prática científica de sua época, se colocava frente ao campo de saber como autor, chegando inclusive a publicar, como dito acima, um compêndio de geografia e gramáticas das línguas estrangeiras supracitadas (Quadro 1). Todavia, em sua vida acadêmica, a língua alemã e a língua portuguesa foram sempre as presenças mais marcantes, sobretudo esta última, em relação à qual se notabilizou como exímio pesquisador, ainda que, como lembra Bechara (Costa; Faria, 2022), dessa disciplina nunca tenha sido professor.

Foi, como dissemos, professor de alemão do Colégio Pedro II e da Escola Militar do Exército, e de alemão e de inglês, de acordo com anúncio publicado no jornal carioca O Tempo em 1894,14 do Curso Preparatório anexo à Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro.15 No Exército, com a abolição da cadeira durante a I Guerra Mundial (1914-1918), passou a exercer a função de tradutor de textos militares escritos em alemão na Escola Preparatória e de Tática do Realengo e, posteriormente, na Escola do Estado-Maior (Bechara, 1956). Entre os memoráveis alunos do professor Said Ali no Colégio Pedro II, é possível citar nomes de brasileiros consagrados nos estudos da linguagem, como Antenor Nascentes e Sousa da Silveira, e literários, como Manuel Bandeira, que inclusive assina o prefácio à primeira edição de Versificação portuguesa (1949).

Outros acontecimentos marcantes na trajetória de Said Ali foram as frequentes viagens realizadas para a Europa. Em função disso, teve a oportunidade, por exemplo, de ser grande frequentador de congressos internacionais, o que possibilitou seu maior contato com intelectuais estrangeiros e, por conseguinte, com as ideias linguísticas em circulação no solo europeu (Bechara, 1962; Costa; Faria, 2022). Dentre essas viagens, cabe destacar a realizada a serviço do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, que resultou na produção de um relatório sobre o ensino de línguas estrangeiras no qual, observando a dificuldade de transcrição de sons característicos de determinadas línguas por meio de letras, defendia a necessidade de se “criar um alfabeto racional que tenha exatamente tantos símbolos quantos forem os sons distintos do idioma em questão” (Ali, 1896, p. 22). Posteriormente, em 1905, em seu Vocabulário ortográfico precedido das regras concernentes às principais dificuldades ortográficas da nossa língua, observamos o emprego de símbolos do Alfabeto Fonético Internacional (IPA), cuja discussão, iniciada na Europa, em 1888, pela Associação Fonética Internacional, seguia em plena efervescência, tendo o segundo quadro do IPA vindo a lume em 1904, apenas um ano antes da publicação do vocabulário de Said Ali.

Leitor dos grandes mestres europeus, como Wilhelm Meyer-Lübke, Ferdinand de Saussure, Hermann Paul, Kristoffer Nyrop e muitos outros, não é, portanto, de se estranhar que o professor Said Ali tenha sido um estudioso atento às questões do seu tempo. Foi, inclusive, o primeiro no Brasil a ler e a citar o Curso de linguística geral – obra de 1916 historicamente significada como marco fundador da chamada linguística moderna. O feito é encontrado no prefácio da segunda edição de Dificuldades da língua portuguesa, de 1919, isto é, apenas três anos após o lançamento da obra editada por Albert Sechehaye e Charles Bally e que teve como base sobretudo as anotações de alunos de Saussure. Nele, lemos: “Nesses fatos encontraria F. de Saussure, creio eu, matéria bastante com que reforçar as suas luminosas apreciações sobre linguística sincrônica e linguística diacrônica” (Ali, 1919, p. VI).

Importante notar ainda que a tradução brasileira do Curso foi realizada apenas na década de 1970, o que nos diz das condições de produção em que se inscreve o gesto de leitura-autoria de Said Ali. Não havendo tradução, o acesso às ideias em circulação na Europa se dava na língua estrangeira, de modo que as constantes viagens e o fato de falar diversas línguas é considerado por muitos como um dos fatores indispensáveis para o seu pioneirismo (cf., por exemplo, Neto, 1955; Silva, 1993). Apesar disso, tendo sido a sua leitura do Curso apagada na história do conhecimento linguístico-gramatical brasileiro, convencionou-se significar o linguista Mattoso Câmara Jr. como o responsável pela introdução dos estudos estruturalistas no Brasil na década de 1940, ou seja, cerca de vinte anos depois da leitura saidalina. É, pois, com base nesses comparecimentos que Pfeiffer, Costa e Medeiros (2022, p. 325) afirmam que “o sintoma da leitura de estudos em circulação no espaço-tempo europeu inscreve as ideias linguísticas filiadas ao nome de autor Said Ali sob o signo da modernidade” – o que, como demonstra Costa (2020; 2021), nem sempre foi bem recebido pelos seus pares.

Embora seja habitualmente rememorado por trabalhos voltados à área da gramática e da linguística, possui ainda em sua extensa bibliografia trabalhos que incluem crítica literária, tendo sido, inclusive, o primeiro crítico literário do Jornal do Brasil. Além disso, também escreveu sobre versificação latina e portuguesa, organizou coletâneas de textos literários de Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias e Castro Alves e realizou diversas traduções, dentre estas a do “Relatório da comissão de estudos das escolas secundárias dos Estados Unidos”, publicado na Revista Pedagógica em 1896/1897, e até a de um livro de ciências naturais de autoria do biólogo britânico Thomas Henry Huxley (1825-1895), em 1916.

Seu mais antigo trabalho descoberto por nós até o momento foi publicado em 1886, quando Said Ali contava apenas 25 anos. O texto veio a lume no periódico A Fanfarra: órgão acadêmico, que, criado pelo jornalista e político Alcindo Guanabara – fundador da cadeira n. 19 da Academia Brasileira de Letras –, teve entre seus colaboradores o literato Olavo Bilac. Trata-se do estudo “Sons e letras”, que faz parte do primeiro número do jornal. Além desse, integram as nossas recentes descobertas as oito colunas de crítica literária escritas para o Jornal do Brasil entre abril e agosto de 1891.

Colocando os arquivos para conversar: o Arquivo Said Ali

Como pontuamos anteriormente, do lugar teórico de que falamos, concebemos que todo arquivo é constituído pela dispersão e pela falta. Isso significa, noutros termos, que, sendo da ordem da constituição, ainda que almejemos tensioná-las, delas não é possível escapar. Por isso, para nós, como assinala Mariani, “a construção de um arquivo [...] nunca está pronta ou finalizada, pois depende dos gestos de compreensão analítica feitos pelos pesquisadores” (Mariani, 2016, p. 24) – depende das questões que se impõem ao seu olhar, dos caminhos que percorrerão, dos documentos com os quais nesses caminhos se defrontarão e dos outros documentos a que os primeiros os levarão. É, pois, nesse sentido que, tal como a autora, entendemos que um arquivo se mantém em um contínuo “movimento histórico”.

Dito isso, cabe assinalar que o Arquivo Said Ali segue em construção, segue em movimento, o que implica, a nosso ver, permanecer aberto não apenas para outros documentos, mas sobretudo para outros saberes. No momento, estão sendo construídos no âmbito desse arquivo três catálogos: o de produção intelectual, o de fotos/imagens e o de correspondências. Por se encontrar em um estágio mais avançado, aqui nos deteremos à apresentação do primeiro.

O catálogo de produção intelectual do Arquivo Said Ali é composto por documentos físicos que compõem o acervo do SaberLing e por documentos físicos e digitais dispersos em diferentes arquivos institucionais. No momento, conta com 122 itens, incluindo textos publicados em periódicos datados do final do século XIX e início do século XX – alguns inclusive jamais reeditados e, portanto, inéditos para a geração atual –, além de edições e reedições revisadas, alteradas e aumentadas.

Com a entrada no ar do site do projeto,16 pretendemos disponibilizar uma versão mais detalhada desse catálogo para consulta pública. O acesso às obras do acervo do SaberLing, porém, em conformidade com o artigo 41 da Lei de Direitos Autorais (n. 9.610/1998), só será possível a partir de janeiro de 2024.

Para composição do catálogo de produção intelectual, foram consultadas inicialmente duas bibliografias já publicadas: Hackerott (2011) e Bechara (1962). Hackerott elenca 82 textos de autoria de Said Ali; Bechara, cerca de 65, dentre os quais seis não estão incluídos no estudo de Hackerott. Em nosso catálogo, após o trabalho de curadoria e pesquisa iniciado há pouco mais de um ano, constam, como dissemos, 122 itens entre colunas e artigos publicados em periódicos, livros, prefácios, resenhas e traduções. Também nos preocupamos em identificar os textos que foram reeditados em suportes distintos, com ou sem alteração.

Os itens catalogados estão sendo organizados segundo o critério cronológico. Caso haja mais de um item publicado no mesmo ano, adotamos os seguintes subcritérios:

A. Para textualidades publicadas em periódicos:

1. se o texto foi publicado em um mesmo periódico, mas em números diferentes, mantivemos o critério cronológico, considerando o mês e, se houver, o dia de publicação do número em questão;

2. se o texto foi publicado no mesmo periódico e no mesmo número, o critério empregado considerou a sua localização no número em questão (paginação em ordem crescente);

3. se o texto foi publicado em periódicos diferentes, privilegiou-se o critério cronológico (mês e dia) e, havendo coincidência, adotou-se a ordem alfabética dos títulos.

B. Para textualidades publicadas em formato de livro ou parte de livro, adotou-se a ordem alfabética dos títulos.

C. Por fim, para determinar a ordenação entre livros e periódicos publicados no mesmo ano, adotou-se o subcritério tipo conferindo precedência a estes em detrimento daqueles, nos quais geralmente não comparece o mês de publicação, impedindo, assim, a adoção do critério cronológico de forma generalizada.

A seguir, para finalizar esta seção, apresentamos uma versão (sempre) provisória do catálogo do Arquivo Said Ali, que, como anunciado, segue em construção.

Quadro 1 – Catálogo de produção intelectual do Arquivo Said Ali

N.

Ano

Título da publicação

Tipo

1

1886

Sons e Lettras. In: A Fanfarra (Ano 1, n. 1 de 24 mar. 1886, p. 3-4).

Coluna

2

1887

Questões Grammaticaes – A ortographia de Alexandre Herculano: Sons Nasaes. In: Jornal Novidades (Ano 1, n. 15 de 8 fev. 1887, p. 2-3).

Coluna

3

1887

Questões Grammaticaes – A ortographia de Alexandre Herculano: Sons Nasaes [Continuação]. In: Jornal Novidades (Ano 1, n. 16 de 9 fev. 1887, p. 2).

Coluna

4

1887

Questões Grammaticaes – A ortographia de Alexandre Herculano: Sons Nasaes [Continuação]. In: Jornal Novidades (Ano 1, n. 17 de 10 fev. 1887, p. 2).

Coluna

5

1887

Questões Grammaticaes – A ortographia de Alexandre Herculano: Sons Nasaes [Conclusão]. In: Jornal Novidades (Ano 1, n. 19 de 12 fev. 1887, p. 2).

Coluna

6

1887

Prosa e Verso. In: Jornal Novidades. (Ano 1, n. 70 de 4 abr. 1887, p. 2).

Coluna

7

1887

Prosa e Verso II. In: Jornal Novidades (Ano 1, n. 78 de 19 abr. 1887, p. 2).

Coluna

8

1887

Prosa e Verso (Continuação). In: Jornal Novidades (Ano 1, n. 81 de 20 abr. 1887, p. 2).

Coluna

9

1887

Prosa e Verso III. In: Jornal Novidades (Ano 1, n. 92 de 3 mai. 1887, p. 1).

Coluna

10

1887

Prosa e Verso IV. In: Jornal Novidades (Ano 1, n. 103 de 20 mai. 1887, p. 1).

Coluna

11

1887

Prosa e Verso V. In: Jornal Novidades (Ano 1, n. 115 de 1 jun. 1887, p. 1).

Coluna

12

1891

Bibliographia – Um Livro Novo. In: Jornal do Brasil (Ano 1, n. 3 de 11 abr. 1891, p. 2).

Coluna

13

1891

Critica Litteraria – Traducções do Romancero de H. Heine, por José de Souza Monteiro, publicadas na “Revista de Portugal”. In: Jornal do Brasil (Ano 1, n. 6 de 14 abr. 1891, p. 2).

Coluna

14

1891

Critica Litteraria – Coelho Netto Rapsodias. In: Jornal do Brasil (Ano 1, n. 19 de 27 abr. 1891, p. 2).

Coluna

15

1891

Critica Litteraria – Contour...?. In: Jornal do Brasil (Ano 1, n. 26 de 4 mai. 1891, p. 2).

Coluna

16

1891

Critica Litteraria. In: Jornal do Brasil (Ano 1, n. 35 de 13 mai. 1891, p. 2).

Coluna

17

1891

Critica Litteraria – Critica de uma critica. In: Jornal do Brasil (Ano 1, n. 45 de 23 mai. 1891, p. 3).

Coluna

18

1891

Critica Litteraria – Tributos e Crenças. In: Jornal do Brasil (Ano 1, n. 65 de 12 jun. 1891, p. 2).

Coluna

19

1891

Revista Litteraria – Adherbal de Carvalho – A poesia e a arte no ponto de vista philosophico. In: Jornal do Brasil (Ano 1, n. 133 de 19 ago. 1891, p. 2).

Coluna

20

1893

These de concurso á cadeira de allemão da Escola Militar da Capital Federal. In: Companhia Typographica do Brazil.

Tese

21

1893

Primeiras noções de grammatica Franceza, de Carlos Ploetz. Tradução do alemão por Manuel Said Ali. Editora: Francisco Alves.

Livro
(tradução)

22

1894

Nova grammatica alleman. Editora: Laemmert.

Livro

23

1895

Estudos de Linguistica – verbos sem sujeito. In: Revista Brazileira (Ano 1, Tomo I, 1895, p. 39-46).

Artigo

24

1895

Estudos de Linguistica – verbos sem sujeito [Segunda parte e final do artigo]. In: Revista Brazileira (Ano 1, Tomo I, 1895, p. 108-115).

Artigo

25

1895

Estudos de Linguistica – a collocação dos pronomes pessoaes na linguagem corrente. In: Revista Brazileira (Ano 1, Tomo I, 1895, p. 301-314).

Artigo

26

1895

Estudos de Linguistica – a accentuação segundo publicações recentes. In: Revista Brazileira (Ano 1, Tomo I, 1895, p. 165-175).

Artigo

27

1895

Obras completas de Casimiro de Abreu. Editora: Laemmert.

Livro (nota biográfica)

28

1896

O ensino secundário na Europa. In: Imprensa Nacional

[Relatório apresentado ao Ministerio da Justiça e Negocios Interiores].

Relatório

29

1896

Metodologia e ensino. In: Revista do Pedagogium.

Artigo

30

1896

Os exames de madureza na Allemanha. In: Revista Brazileira (Ano 2, Tomo VI, 1896, p. 85-94).

Artigo

31

1896

Os exames de madureza na Allemanha. In: Revista Pedagógica (Tomo IX, n. 48 de 15 jun. 1896, p. 259-270).

Artigo

32

1896

Obras completas de Castro Alves. Editora: Laemmert.

Livro (nota biográfica)

33

1896

Poesias de Gonçalves Dias. Editora: Laemmert.

Livro (nota biográfica)

34

1896/
1897

Relatório da comissão de estudos das escolas secundárias dos Estados Unidos: In: Revista Pedagógica (Tomo IX, n. 48 de 15 jun. 1896).

Relatório (tradução)

35

1898

Questões Ortographicas. In: Revista Brazileira (Ano 4, Tomo XIII, jan. a mar. 1898, p. 148-162).

Artigo

36

1898

Nova Seleta Francesa por Carlos Kühn. Notas, adaptação ao português e uma notícia sobre o ensino por M. Said Ali. Editora: Francisco Alves.

Livro (tradução e adaptação)

37

1898

Sintaxe da Lingua Portugueza, de Leopoldo da Silva Pereira. Prefácio por M. Said Ali. Editora: Laemmert.

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Prefácio de livro

38

1898

The English Student (O estudante inglês). Método prático e natural para o estudo de língua inglesa, de Emílio Hausknecht. Tradução e adaptação ao português por M. Said Ali. Editora: [s. n.].

Livro (tradução e adaptação)

39

1899?17

Curso Pratico da Lingua Franceza (Baseado no methodo intuitivo pelos drs. Rossmann e F. Schmidt. Adaptado ao portuguez e precedido de uma noticia sobre o livro e o seu methodo por M. Said Ali).

Livro (tradução e adaptação)

40

1905

Compendio de Geographia Elementar. Editora: Laemmert.

Livro

41

1905

Vocabulario ortográfico precedido das regras concernentes as principaes dificuldades orthographicas da nossa língua. Editora: Laemmert.

Livro

42

1907

O pronome “se”. In: Revista Educação Nacional (Ano I, n. 2 de ago. 1907, p. 167-187).

Artigo

43

1908

Dificuldades da Lingua Portugueza: estudos e observações. Editora: Laemmert.

Livro

44

1911

Questões de Português (1ª parte). In: Revista Americana. (Tomo V, Fasc. I, n. 1 de jan. 1911, p. 175-189).

Obs.: O texto foi publicado em duas partes. Apenas a primeira parte foi reeditada em Investigações filológicas (1975).

Artigo/ resenha18

45

1911

Questões de Português (2ª parte). In: Revista Americana (Tomo VI, Fasc. I, n. 6 de abr. 1911, p. 152-168).

Artigo/ resenha de “O problema da colocação dos pronomes”, de Cândido Figueiredo

46

1914

Correções injustas [todo e todo o]. In: Anuário do Colégio Pedro II (Vol. 1, p. 267-276).

Artigo

47

1914

O purismo e o progresso da língua portuguesa.

Obs.: Conferência proferida na ABL e reeditada na 2ª ed. de Dificuldades da Lingua Portugueza (1919).

Conferência/ artigo

48

1916

Primeiras noções sobre as sciencias, de Th. Huxley. Tradução e adaptação ao português por Manuel Said Ali. Editora: [s. n.].19

Livro (tradução e adaptação)

49

1919

Dificuldades da Lingua Portugueza: estudos e observações. Editora: Besnard Freres.

Obs.: 2ª edição (aumentada).

Livro

50

1919

Investigações Filológicas I. In: Revista Philologica da Academia Brasileira de Filologia.

Artigo

51

1919

Investigações Filológicas II. In: Revista Philologica da Academia Brasileira de Filologia.

Artigo

52

1920

Emprego do gerúndio. In: Revista de Lingua Portuguesa (n. 4, p. 37-43).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

53

1921

Proposital e propositado. In: Anuário do Colégio Pedro II (Vol. 4, p. 25-33).

Artigo

54

1921

Verbos transitivos e intransitivos. In: Revista de Lingua Portuguesa (n. 11, p. 61-72).

Artigo

55

1921

Lexeologia do Portuguez Historico. Editora: Companhia Melhoramentos de São Paulo (Weiszflog Irmãos incorporados).

Livro

56

1923

Formação de Palavras e Syntaxe do Portuguez Historico. Editora: Companhia Melhoramentos de São Paulo (Weiszflog Irmãos incorporados).

Livro

57

1923

Grammatica Elementar da Lingua Portugueza. Editora: Melhoramentos.

Livro

58

1923?20

Grammatica Secundaria da Lingua Portugueza. Editora: Melhoramentos.

Livro

59

1923

Copa e Copo. In: Revista do Brasil (n. 85).

Artigo

60

1923

O assucar. In: Revista do Brasil (n. 86).

Artigo

61

1925

Montar, remontar. In: Revista de Filologia Portuguesa (n. 13, p. 13-19).

Artigo

62

1925

Nomes de animais marinhos. In: Revista de Língua Portuguesa (n. 54, p. 5-20).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

63

1928

Interjeições. In: Revista de Língua Portuguesa (n. 55, p. 5-26).

Artigo

64

1930

Meios de Expressão e Alterações Semanticas. Editora: Francisco Alves.

Livro

65

1931

Grammatica Historica da Lingua Portugueza. Editora: Melhoramentos.

Livro

66

1931

Nomes de cores. In: Revista de Philologia e de Historia (Tomo I, Fasc. 2, p. 143-164).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

67

1932

A linda Inês. In: Revista de Philologia e de Historia (Tomo II, Fasc. 1, p. 5-16).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

68

1932

Notas e comentários [alhambra / a olhos vistos / calão / cigano / alagar / perguntar]. In: Revista de Cultura (Vol. 12, Fasc. 72, p. 241-251).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

69

1933

O verbo assistir. In: Revista de Cultura (Vol. 13, Fasc. 74, p. 100-107).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

70

1933

Coronel. In: Revista de Cultura (Vol. 13, Fasc. 76, p. 226-232).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

71

1933

Refeições. In: Revista de Cultura (Vol. 13, Fasc. 78, p. 281-288).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

72

1933

Perspectivas etymologicas [elemento, manteiga, doido, louco, maluco, bruxa]. In: Revista de Cultura (Vol. 15, Fasc. 85, p. 12-20).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

73

1935

Curiosidades do nosso idioma [porcentagem, percentagem / registro, registo / ... em questão / impetrar / apontar / olhar]. In: Revista de Cultura (Vol. 18, Fasc. 105, p. 116-128).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

74

1935

Curiosidades do nosso idioma [verbos translativos / tornar e sinônimos / dirigir, dirigir-se / cumprir com]. In: Revista de Cultura (Vol. 18, Fasc. 107-108, p. 231-241).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

75

1936

Versificação Portuguesa I [classificação dos versos / contagem das sílabas / ritmo / sílabas fortes e sílabas fracas / limites do verso / verso de três sílabas / verso de quatro sílabas]. In: Revista de Cultura (Vol. 20, Fasc. 118, p. 181-195).

Artigo

76

1937

Versificação Portuguesa II [verso de cinco sílabas / verso de seis sílabas / verso de sete sílabas / verso de oito sílabas / verso de nove sílabas verso de dez sílabas / verso de onze sílabas / dodecassílabo / verso alexandrino / rima / verso sem rima e versos soltos / estrofes]. In: Revista de Cultura (Vol. 22, Fasc. 128, p. 94-122).

Artigo

77

1937

Versificação Portuguesa (errata). In: Revista de Cultura (Vol. 22, Fasc. 129, p. 199-200).

Errata de artigo

78

1937

De eu e tu a majestade [tratamentos de familiaridade e reverência]. In: Revista de Cultura (Vol. 22, Fasc. 129, p. 137-151).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

79

1937

Entre árabe e português. In: Revista de Cultura (Vol. 22, Fasc. 131-132, p. 293-303).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

80

1938

As formas “quer” e “perguntar” e emendas. In: Jornal do Comércio (Ano 3, n. 262 de 7 ago. 1938, p. 5).

Obs.: Texto reeditado em Revista de Cultura (Vol. 24, Fasc. 141, p. 171-176) e em em Investigações filológicas (1975).

Coluna

81

1938

Ilhas e mares nos Lusíadas. In: Revista de Cultura (Vol. 25, Fasc. 145, p. 43-51).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

82

1939

Ilhas e mares nos Lusíadas (retificações). In: Revista de Cultura (Vol. 25, Fasc. 146, p. 128).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Retificações de artigo

83

1940

Verbos de significação e sintaxe variáveis [cometer / começar, continuar, acabar, correr]. In: Boletim de Filologia (Lisboa) (Tomo VI, Fasc. 1-2, 1940, p. 35-46).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

84

1940

Aguar e outros verbos terminados em –uar. In: Revista de Cultura (Vol. 28, Fasc. 164-166, p. 89-93).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

85

1941

João Capistrano de Abreu – rã-txa hu-ni-ku-ĩ, a língua dos Caxinauás do Rio Ibuaçu, afluente do Murú (prefeitura de Tarauacá), de Koch-Grünberg, Theodor. (1917/1918).

Tradução de Manuel Said Ali. In: Abreu, Capistrano de. Rã-txa hu-ni-ku-ĩ: Grammatica, Textos e Vocabulario Caxinauás. 2ª edição, 1941, p. 633-635.

Tradução de artigo

86

1942

Geschichte Russlands de Erdmann Hanisch em 2 volumes. In: Revista de Cultura (Vol. 31, Fasc. 181, p. 63).

Nota biográfica

87

1943

Acentuação latina nas combinações com enclítico. In: Revista de Cultura (Vol. 34, Fasc. 199, p. 22-24).

Artigo

88

1943

Vocábulos esquecidos [avache / trama]. In: Revista de Cultura (Vol. 34, Fasc. 200, p. 53-55).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

89

1943

Versificação latina [I – quantidade e acento]. In: Revista de Cultura (Vol. 34, Fasc. 200, p. 82-85).

Artigo

90

1943

Versificação latina [II – sílabas acentuadas]. In: Revista de Cultura (Vol. 34, Fasc. 202, p. 197-199).

Artigo

91

1944

De “falir” a “faltar”. In: Revista de Cultura (Vol. 35, Fasc. 205, p. 5-11).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

92

1944

Versificação latina [III – odes sáficas e alcaica]. In: Revista de Cultura (Vol. 35, Fasc. 207, p. 111-115).

Artigo

93

1944

Nomes de cores. In: Revista de Cultura (Vol. 36, Fasc. 211, p. 5-14).

Artigo

94

1944

Nomes de animais marinhos. In: Revista de Cultura (Vol. 36, Fasc. 213, p. 117-124).

Artigo

95

1945

Nomes próprios geográficos. In: Revista de Cultura (Vol. 37, Fasc. 217, p. 7-10).

Obs.: Texto inicialmente publicado na 2ª ed. de Dificuldades da Língua Portuguesa (1919).

Artigo

96

1945

O futuro. In: Revista de Cultura (Vol. 37, Fasc. 220-221, p. 186-192).

Obs.: Texto inicialmente publicado na 2ª ed. de Dificuldades da Língua Portuguesa (1919).

Artigo

97

1945

Versificação latina [IV – o hexâmetro]. In: Revista de Cultura (Vol. 37, Fasc. 222, p. 201-209).

Artigo

98

1945

Os vocábulos [espécies, formas e significação]. In: Revista de Cultura (Vol. 38, Fasc. 223, p. 29-51).

Artigo

99

1945

Todo o Brasil e todo Portugal. In: Revista de Cultura (Vol. 38, Fasc. 224-228, p. 53-62).

Obs.: Texto inicialmente publicado na 2ª ed. de Dificuldades da Língua Portuguesa (1919).

Artigo

100

1946

Bicho, bicha. In: Revista de Cultura (Vol. 39, Fasc. 229, p. 41-45).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

101

1946

Prosa e verso. In: Revista de Cultura (Vol. 39, Fasc. 230-234, p. 153-160).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

102

1946

Três preposições [pera, para / per / por]. In: Revista de Cultura (Vol. 40, Fasc. 235, p. 5-10).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

103

1947

Três sapecas. In: Humanidades – revista de ensino do segundo grau (n. 4).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

104

1948

Curiosidades do nosso idioma. In: Jornal do Brasil (Ano LVIII, 2ª seção, n. 236 de 8 dez. 1948, p. 3).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

105

1948

Curiosidades do nosso idioma – cont. In: Jornal do Brasil (Ano LVIII, 2ª seção, n. 303 de 26 dez. 1948, p. 3).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

106

1949

Versificação portuguêsa. Editora: Instituto nacional do livro.

Obs.: 1ª edição comentada e prefaciada por Manuel Bandeira.

Livro

107

1949

Nomes das partes do corpo. In: Jornal do Brasil (Ano LVIII, 2ª seção, n. 19 de 24 jan. 1949, p. 2).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

108

1949

Três preposições. In: Jornal do Brasil (Ano LVIII, 2ª seção, n. 71 de 28 mar. 1949, p. 2).

Artigo

109

1949

Coronel. In: Jornal do Brasil (Ano LIX, n. 194 de 19 ago. 1949, p. 16).

Artigo

110

1949

Histórico das formas “quer”, “vale” e “perguntar”. In: Jornal do Comércio (Ano 122, n. 126 de 27 fev. 1949, p. 3).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Coluna

111

1949-1959

Alterações fonéticas de senhor, senhora. In: Anais do Congresso Brasileiro de Língua Vernácula.

Artigo

112

1950

Pessoas indeterminadas. In: Boletim de Filologia (Lisboa) (Tomo XI, p. 108-114).

Artigo

113

1951

Há dias que. In: Studia – Congregação do Colégio Pedro II (n. 2, p. 33-41).

Obs.: Texto reeditado em Investigações filológicas (1975).

Artigo

114

1956

Acentuação e versificação latinas: observações e estudos. Editora: Organização Simões.

Livro

115

1957

Dificuldades da Lingua Portugueza: estudos e observações. Editora: Livraria acadêmica.

Obs.: 5ª edição (prefácio de Silva Neto).

Livro

116

1964

Grammatica Historica da Lingua Portugueza. Editora: Melhoramentos.

Obs.: 3ª edição (reeditada por Maximiano Maciel).

Livro

117

1965

Gramática Secundária da Língua Portuguesa. Editora: Melhoramentos

Obs.: 8ª edição revista e comentada de acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasileira pelo prof. Evanildo Bechara

Livro

118

1966

Gramática Elementar da Língua Portuguêsa. Editora: Melhoramentos

Obs.: 9ª edição atualizada pelo prof. Adriano da Gama Kury.

Livro

119

1975

Investigações filológicas. Editora: Grifo / Instituto nacional do livro

Obs.: Obra comentada e prefaciada por Evanildo Bechara.

Livro

120

[1975]

Amo, criado, criança. In: Investigações Filológicas (1975).21

Artigo

121

2001

Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Editora: Melhoramentos; Editora Universidade de Brasília.

Obs.: 8ª edição (reeditada por Mario Eduardo Viaro).

Livro

122

2006

Investigações filológicas. Editora: Lucerna.

Obs.: 3ª edição revista e ampliada.

Livro

Fonte: Elaborado pelos autores.

Conclusão

Se nos arquivos, como pontua Mariani (2016), se inscrevem sintomas da época em que foram organizados, não é de se admirar que a digitalização de acervos institucionais seja uma demanda da nossa era, o que de fato já vem sendo realizado pelos grandes arquivos, como a Biblioteca Nacional e o Arquivo Nacional. O diferencial do projeto ora apresentado, porém, como buscamos elucidar ao longo deste artigo, consiste não no desejo de superar a dispersão e a falta constitutivas de todo e qualquer arquivo, mas de tensioná-las, promovendo outras maneiras de com elas lidar. Para tanto, construindo arquivos em rede, almeja-se colocar diferentes arquivos, institucionais e pessoais, para conversar, a fim de que, com isso, realize-se uma intervenção na gestão das “coisas-a-saber” (Pêcheux, 2006 [1983]) sobre o conhecimento linguístico-gramatical no/do Brasil que torne possível a democratização do acesso a obras raras e especiais, a circulação de saberes muitas vezes esquecidos e a narrativização de histórias outras sobre a(s) língua(s) no/do Brasil e sobre os sujeitos nessa(s)/dessa(s) língua(s) – propósito este para o qual a montagem e a manipulação de arquivos tornam-se, portanto, fundamentais.

Quanto à narrativização dessas outras histórias, lembremos com Mbembe (2002), para concluir, que escrever histórias a partir do trabalho com arquivos “é estar implicado num ritual que resulta na ressurreição da vida”, isto é, que resulta “em trazer os mortos de volta à vida e reintegrá-los no ciclo do tempo de maneira que eles encontrem, num texto, num artefato ou num monumento, um lugar para habitar, onde possam continuar se expressando”. É colocar mundos, espaços e temporalidades distintas em contato e, por isso, é também evocar “a possibilidade do espectro” contra o qual o historiador, em sua ânsia de reconstruir a história, segue em permanente batalha, já que a existência dos mortos por meio do arquivo entre os mortais “não se desdobra mais de acordo com a mesma modalidade que aquela com a qual se desdobrava em vida” (Mbembe, 2002, p. 7).

A relação entre a vida vivida e o sopro de vida concedido pelo arquivo pós-morte não é, portanto, correlata, transparente ou linear – daí, para Mbembe (2002), o historiador não traz simplesmente a morte à vida. Em vez disso, segundo o autor, “ele a recupera exatamente para melhor silenciá-la, transformando-a de palavras autônomas em um suporte sobre o qual possa se apoiar para falar e escrever” uma história possível em condições de produção específicas. Assim, calcado no discurso documental, que, como vimos, é um discurso que se pressupõe científico (Mbembe, 2002, p. 7-8), o historiador se significa/é significado socialmente como autoridade, contando a história que, diante da complexa trama de gestos de interpretação que envolve a constituição de arquivos, lhe é possível contar.

Mbembe (2002, p. 8), então, ao lançar luz sobre o que designa como um “ato de espoliação”, aproxima-se, a nosso ver, da proposta pêcheuxtiana, colocando em cena na sua reflexão a questão da interpretação daqueles que lidam com o arquivo (o arquivista, o pesquisador, o historiador etc.). Logo, se, por um lado, o arquivo, possibilitando a escrita de uma certa história, permite também o retorno de um espectro (e não o do indivíduo em si), por outro, esse retorno só é possível

sob a condição de que o espectro que foi trazido de volta à vida permaneça em silêncio, aceite que de agora em diante só poderá falar através de outro ou que será representado por algum símbolo, por algum objeto que, uma vez que não pertence a ninguém em particular, agora pertence a todos. (Mbembe, 2002, p. 7)

É, pois, nesse sentido que tomamos as investigações desenvolvidas à luz da perspectiva discursiva da história das ideias linguísticas pelo grupo de analistas-historiadores-arquivistas do SaberLing “não como a verdade sobre o conhecimento linguístico-gramatical, mas como leituras possíveis que, produzidas em condições específicas, propõem-se a desestabilizar sentidos hegemônicos” (Costa, 2023, p. 232).

Referências

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Recebido em 26/3/2023

Aprovado em 15/9/2023


Notas

1 Projeto sob a coordenação da professora Thaís de Araujo da Costa. Ref. do processo Faperj: E-26/211.851/2021.

2 Para saber mais sobre o GAL, acesse: https://gal.hypotheses.org/.

3 Considerando o sujeito-cientista – e, no caso em tela, o sujeito-linguista – em sua determinação ideológica, entendemos, com Costa (2021, p. 63), que a “conjuntura política em que se inscreve ressoa nas filiações teóricas determinantes da sua prática científica”.

4 BIBLIOTECA NACIONAL. Obras raras. Disponível em: https://www.bn.gov.br/explore/acervos/obras-raras. Acesso em: 17 out. 2021.

5 SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNICAMP. Coleções especiais e obras raras. Disponível em: http://www.sbu.unicamp.br/sbu/colecoes-especiais-e-obras-raras/. Acesso em: 17 out. 2021.

6 Esse último será construído em parceria com o projeto de prodocência “Livros didáticos de língua portuguesa: memória e reflexão”, coordenado pela professora Cláudia Moura da Rocha (Uerj).

8 Os manuscritos das correspondências de Capistrano de Abreu encontram-se na Biblioteca Nacional.

9 Desse conjunto, a correspondência ativa de Said Ali, bem como cerca de uma dúzia de cartas do historiador a interlocutores diversos em que tece comentários sobre Said Ali e sua obra constituem o objeto da pesquisa de iniciação científica intitulada “Arquivo Said Ali: a escrita epistolar como lugar de (re)produção e circulação do conhecimento linguístico-gramatical na primeira metade do século XX”, da qual participam Daniele Barros de Souza e Thairly Mendes Santos (ambas como voluntárias) e participava Luís Fernando da Silva Fernandes (como bolsista).

10 A última carta de Said Ali a Capistrano publicada no volume III de Correspondências de Capistrano de Abreu encontra-se incompleta e, por isso, sem data e sem assinatura. Nela, todavia, Said Ali alude a informações trazidas por Capistrano em carta anterior sobre o bacairi, língua de um povo indígena de mesmo nome, e tece breves considerações que, de certa maneira, aproximam a estrutura dessa língua à do português (Abreu, 1977b).

11 Em Abreu (1914, p. 7), encontramos: “Ao concluir não posso omitir o nome do meu colega M. Said Ali Ida, lente de alemão do Colégio Pedro II, a cuja intuição luminosa e opulento cabedal recorri sempre com proveito”.

12 Em português, “A ortografia dos vocabulários pano – a partir das indicações de J. Capistrano de Abreu e M. Said Ali Ida”.

13 Uma análise mais detalhada dessas textualidades foi desenvolvida após a submissão deste artigo e pode ser encontrada em Fernandes (2023).

14 O Tempo, Rio de Janeiro, 14 maio 1894, p. 3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=218731&pasta=ano%20189&hf=memoria.bn.br&pagfis=3957. Acesso em: 13 mar. 2023.

15 De origem privada, essa faculdade fora fundada em 1891 por Carlos Antônio França de Carvalho (Bordignon, 2017, p. 763) e fundiu-se, em 1920, com a Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, outra faculdade privada do período, dando origem à Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, conforme o site oficial da instituição. Disponível em: https://direito.ufrj.br/sobre-a-fnd/. Acesso em: 31 out. 2023.

16 Quando este artigo foi submetido à revista, o site do projeto ainda se encontrava em construção. Ele foi oficialmente lançado em junho do presente ano.

17 A informação sobre a obra foi inicialmente localizada em uma notícia datada do ano de 1906, do jornal A Notícia. A mesma obra é mencionada por Evanildo Bechara (1962) como sendo do ano de 1899, parte da série Ensino Moderno de Línguas Vivas, da editora Laemmert. De acordo com Bechara, o livro contaria também com colaboração do foneticista francês Paul Passy.

18 Trata-se de uma resenha de O problema da colocação dos pronomes, obra do português Cândido Figueiredo, de 1909.

19 Ainda não identificada.

20 A primeira edição não possui data, contudo, pressupõe-se que seja de 1923.

21 Artigo inédito publicado em Investigações filológicas (1975), livro organizado por Evanildo Bechara. O organizador não inclui a data original do texto.



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