O falecimento de Marilena Leite Paes, em janeiro de 2020, tirou de cena uma das mais destacadas profissionais da arquivologia na segunda metade do século XX. A intenção de publicar a entrevista realizada em 2006 e 2007, para minha pesquisa de doutorado, tornou-se um dever de memória. Neste depoimento, Marilena Leite Paes reporta-se ao momento de seu ingresso na Fundação Getúlio Vargas (FGV), ao longo processo de institucionalização do sistema de arquivos da fundação, à criação e atuação da Associação dos Arquivistas Brasileiros (AAB), à luta pela regulamentação da profissão de arquivista e ao papel do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), entre outros temas.
Arquivista e graduada em biblioteconomia pela Universidade Santa Úrsula (USU), Marilena Leite Paes foi funcionária da FGV entre 1954 e 1993. Neste período, idealizou e tornou realidade um padrão de organização e funcionamento do sistema de arquivos que se tornou referência para instituições públicas e privadas. Fez do Arquivo Central da FGV um “centro” de atração de profissionais em busca de capacitação, metodologias e conhecimento das práticas arquivísticas. O trabalho inicial ao lado de Maria de Lourdes Costa e Sousa foi ganhando corpo ao longo dos anos com a formação de uma equipe. Ao preocupar-se com o registro e a sistematização dos métodos e técnicas adotadas, escreveu um manual e criou as bases para a publicação do seu livro Arquivo: teoria e prática (1986), obra seminal e objeto de novas edições e inúmeras reimpressões.
Depois de décadas de dedicação aos arquivos e à documentação na FGV, aceitou o desafio de “tirar do papel” o Conselho Nacional de Arquivos (Conarq). A convite de Jaime Antunes da Silva, diretor-geral do Arquivo Nacional e presidente do Conarq, Marilena colocou a serviço do novo órgão sua larga experiência técnica e capacidade de gestora, entre 1994 e 2011. As realizações e a dinâmica dos trabalhos do Conarq tiveram, sem dúvida, a marca de suas digitais.
Sua trajetória esteve associada de forma definitiva à excelência do sistema de arquivos da FGV e à criação da Associação dos Arquivistas Brasileiros e da profissão de arquivista. Ao lado de outros nomes da área, foi uma militante incansável na defesa da função dos arquivos na sociedade. Fez parte de uma geração de mulheres que conquistou espaço no mundo do trabalho e descortinou os desafios da gestão dos arquivos. Detentora de conhecimento teórico e prático, Marilena era rigorosa na aplicação dos conceitos e métodos que defendia e disseminava. Muitos profissionais da arquivologia perderam uma mestra. Sua obra, contudo, permanece.